Envergando cartazes com frases “Não toquem na minha rua”, “Rua lotada, rua cortada”, “Veículos pesados aqui não” e “Veículos ‘tuk-tuk’ aqui não”, a maioria das pessoas presentes, essencialmente moradores e já com alguma idade, fechou a rua com barreiras de metal, não deixando passar o trânsito, agora aberto a todos os veículos.

Isabel Esmeralda, mais conhecida como D. Belinha, conta com 78 anos. A entrada do prédio onde mora é no Beco da Lapa, mas a janela do seu primeiro andar dá para a Rua dos Remédios. E é nesta, conforme contou à Lusa, que se está a passar “uma coisa indecente” com a passagem constante de ‘tuk-tuk’ pela rua.

“Não nos dão passagem quando quero atravessar, tenho de estar à espera de 18 ‘tuk-tuk’, por vezes adianto o passo para ver se eles travam e digo 'espera aí que agora quem passa sou eu'”, explicou, lembrando também a circulação destes veículos, já à noite, com música alta e “carregados de raparigas que já iam aviadas a cantar alto” e a fazer barulho estrada fora.

Também José Louro, nascido na Rua dos Remédios há 69 anos, resiste como morador, explicando que a “zona é particularmente afetada pela obra” do Plano de Drenagem de Lisboa.

José Louro recordou que “há meia dúzia de anos” a junta de freguesia fez uma “grande obra, não só do que está à vista, mas também por baixo, em termos de esgotos e manilhas”, e a rua foi fechada com um pilarete, impedindo a circulação de veículos externos, à semelhança do que acontece em algumas ruas do Bairro Alto.

“Agora, logicamente, que isto é uma rua que não estava preparada, nem está, para a circulação de pesados, agora é a única alternativa para se entrar aqui, passou a ser”, explicou, lembrando a existência de um pilarete à entrada que só permitia a circulação de carros ligeiros, alguns pesados como transporte públicos e veículos de cargas e descargas para o comércio local, mas que impedia a entrada de ‘tuk-tuk’.

Para este morador, como solução enquanto decorre a obra do PGDL, podia haver a presença de um policiamento a restringir a entrada, nomeadamente dos ‘tuk-tuk’.

Entre os manifestantes encontrava-se o presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, Miguel Coelho (PS), que explicou que a solução encontrada pela câmara em abrir a rua à circulação geral “não está a funcionar”.

“Está a ser muito difícil para quem aqui reside, há mesmo cenas de pancadaria com condutores de ‘tuk-tuk’”, disse Miguel Coelho, afirmando não “condenar quem está a fazer o seu trabalho”, mas lamentando que atualmente aqueles veículos passem na Rua dos Remédios.

Miguel Coelho frisou ainda que o piso da rua já está a abater em algumas zonas devido à passagem de veículos pesados, que estão também a deitar pilaretes abaixo, pilaretes esses que referiu serem caros, mas que são uma solução para evitar o estacionamento de automóveis.

“O nosso objetivo agora é não pararmos até a câmara [presidida pelo social-democrata Carlos Moedas] tomar uma medida que é justa para as pessoas que aqui moram e que têm direito a viver tranquilamente num território que tem sido tão massacrado com invasão da propriedade, no caso da residência das pessoas, com a expulsão das mesmas, com o alojamento local que desertificou o território”, desabafou o autarca, lembrando só querer “alguma tranquilidade” para quem ainda permanece em Alfama.

Também o presidente da Assembleia de Freguesia de Santa Maria Maior, Sérgio Cintra (PS), recordou que nos últimos tempos “foi revertido” o equilíbrio que havia entre moradores e os turistas daquela zona da cidade, sublinhando a importância da obra e o dinamismo da mesma, sem esquecer as pessoas que vivem no local.

Sérgio Cintra acrescentou ainda estar presente no protesto não só pelo cargo na assembleia da freguesia, mas também como antigo morador da rua, onde ainda vivem os seus pais, e para dar voz àqueles que, com certa idade, não podem participar no protesto.

À entrada da Rua dos Remédios encontra-se um sinal de trânsito proibido ‘a veículos afetos à atividade de animação não turística não pesados’, vulgo tuk-tuk, além de veículos de carga superior a 3,5 toneladas, sendo permitido a passagem de transportes públicos e veículos da CML (Câmara Municipal de Lisboa) e higiene urbana.

Ao lado do sinal, os moradores colocaram um cartaz onde se pode ler “Sr. Condutor de Veículos de Animação Turística, esta rua não é para si”.

Em resposta por escrito à Lusa, a Câmara Municipal de Lisboa (CML) adiantou que, face aos constrangimentos causados pelo PGDL em Santa Apolónia, “tem em análise o plano de sinalização temporária aprovado e implementado até ao momento, com o propósito de minorar com mais eficácia os impactos negativos no trânsito naquela zona”.

Segundo a nota, foi previsto um plano de alternativa viária “que está em concretização” e que foi “validado e implementado com a anuência das entidades envolvidas”, tendo sido retiradas e recolocadas paragens de autocarros com vista a aliviar as vias (Rua dos Remédios e Rua do Vigário).

Em relação aos comerciantes, a CML diz que foram tomadas medidas no sentido de tornar visíveis os estabelecimentos comerciais e de restauração nos tapumes de obra, bem como de isenção de taxas dos estabelecimentos existentes na área de influência da obra.

Estima-se a manutenção do estaleiro de obra de Santa Apolónia até maio de 2025.