Organizada por um grupo de habitantes locais, a ação de protesto decorreu durante a tarde naquela freguesia, também palco do festival musical Fusos, que reuniu várias centenas de pessoas.
Os manifestantes empunhavam cartazes onde se lia “a água é do povo”, “biodiversidade sim, monoculturas não”, sob o olhar atento de vários militares da Guarda Nacional Republicana.
Em declarações à agência Lusa, Suzy Lucas, uma das organizadoras do protesto cívico, disse que a manifestação visa chamar a atenção para o que se está a passar naquela ribeira, “onde a água é desviada para regar um laranjal com cerca de 120 hectares, o que origina que a cascata do Vigário fique sem água durante largos períodos de tempo”.
“O desvio da água, que é um bem de todos, põe em causa o caudal e causa a mortandade de muitas espécies, colocando em causa o ecossistema”, destacou.
Segundo Suzy Lucas, o movimento cívico pretende que “a empresa proprietária do pomar de citrinos faça uma gestão controlada da água em articulação com a junta de freguesia, entidade que tem a competência na área, para que a água chegue à cascata do Vigário, local que atrai milhares de pessoas durante o verão”.
“Pretendemos que a empresa cumpra o que está estipulado que é gerir o curso de água na ribeira de Alte com a junta de freguesia, o que não tem acontecido até agora”, sublinhou.
Na semana passada, um grupo mais radical de ativistas bloqueou com sacos de areia e cimento a comporta pela qual é encaminhada a água para a rega, levando à intervenção da GNR.
Segundo Suzy Lucas, a ação foi desencadeada por moradores que se revoltaram com “o atentado ao ecossistema que estava a ser feito, com a secagem da cascata”.
“Depois de anunciarmos o protesto e como se pode ver, hoje a água está a correr, porque a empresa interrompeu o desvio da água”, apontou Suzy Lucas junto à queda do Vigário.
Por seu turno, o presidente da Junta de Freguesia de Alte, António Martins, disse à Lusa que a contestação dos moradores “é legítima, porque há documentos da Agência Portuguesa do Ambiente [APA] que dizem que a empresa pode utilizar a água, mas tem de garantir que a água chegue à queda do Vigário”.
“O que acontece é que a empresa alega que, basicamente, a água da nascente e da ribeira é deles e, portanto, que desvia a ribeira quando precisa de água para regar as laranjas e diz que, eventualmente, pode deixar a população utilizar a água se não puser em causa o desenvolvimento das laranjeiras”, explicou.
António Martins diz que a posição da junta é diferente da do empresário e coincidente com a da APA: “Os documentos dizem que a empresa pode utilizar a água e garantir que chega à queda do Vigário e que em períodos de seca e no verão tem de articular a utilização com a Junta de Freguesia”.
“O empresário responsável pela exploração de citrinos sempre se recusou a articular a água da ribeira com a junta de freguesia, alegando que a água é dele e que não tem de articular nada com a junta”, lamentou o autarca.
António Martins garantiu que, com base no oficio da APA, “a Junta vai, a partir de agora, intervir para gerir e garantir que a água chega à queda do Vigário, independentemente da vontade do empresário responsável pela exploração, a não ser que o tribunal diga que a Junta não o pode fazer”.
“Se depender de nós já não faltará a água na cascata do Vigário”, concluiu o autarca.
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