Paula Palminha, bióloga e coordenadora Inquérito Serológico Nacional (ISN) 2015-2016 sobre Doenças Evitáveis por Vacinação, promovido pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), sublinhou os avanços alcançados pela vacinação em Portugal, embora tenha destacado algumas mudanças.
À agência Lusa, a especialista frisou que, desde o último inquérito (2001-2002), Portugal registou “uma grande alteração na comunidade”, a qual está relacionada com “a ausência de circulação de alguns vírus”.
Assim acontece com o vírus do sarampo, cuja circulação em Portugal não existe desde 2003, tirando os casos importados e que estão na origem do recente surto que provocou a morte de uma jovem de 17 anos.
De acordo com o ISN 2015-2016, “94,2% da população estudada é seropositiva para o vírus do sarampo. Este valor é inferior a 95% da proporção de indivíduos seropositivos necessária para que ocorra imunidade de grupo”.
“A imunidade de grupo verificou-se globalmente para ambos os sexos nas crianças com idades compreendidas entre os dois e os nove anos e nos adultos com idade superior a 44 anos, correspondendo aos indivíduos vacinados com VASPR [vacina] e aos que desenvolveram imunidade natural”, lê-se no relatório, a que a Lusa teve acesso.
Para Paula Palminha, esta “fotografia” demonstra as alterações ocorridas na comunidade em termos de circulação de agentes, nomeadamente a ausência de vírus que provocam doenças como o sarampo, mas também o tétano.
No caso do tétano, os indivíduos analisados demonstraram proteção, embora em quantidade inferior à detetada em 2001-2002.
Estes sinais deverão agora ser analisados pelos decisores políticos, defendendo a coordenadora do inquérito que a principal “marca” da investigação seja a mudança da comunidade, em termos de circulação de agentes, nomeadamente o contacto da população com os mesmos.
O relatório do inquérito refere que, em Portugal, tal como em outros países, “a implementação do Programa Nacional de Vacinação (PNV) em 1965 resultou para a população portuguesa em benefícios inigualáveis”.
No entanto, lê-se no documento, “a efectividade do PNV será tanto maior, quanto mais adaptado estiver à realidade sero epidemiológica nacional”.
“Os resultados do ISN 2015-2016 demonstram que os 50 anos de implementação do PNV em Portugal tiveram como consequência uma elevada proporção de pessoas imunizadas relativamente às doenças abrangidas por este programa. Estes resultados estão em concordância com as elevadas taxas de cobertura vacinal e a ausência de casos das doenças em causa”, adianta o relatório.
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