Divulgado no Dia Internacional da Luta Contra o Cancro, o estudo “A perceção dos portugueses sobre cancro do pulmão” teve como objetivo aferir perceções, comportamentos e atitudes da população portuguesa em diferentes áreas relativas a este tumor.

O inquérito conclui que “quanto menor o grau de instrução dos inquiridos, maior o seu desconhecimento sobre as opções terapêuticas” para o cancro do pulmão.

De forma espontânea, 12% dos inquiridos com graus de instrução mais elevados referiu a Imunoterapia”, enquanto 68,5% apontaram a quimioterapia, 44,8% a radioterapia e 18,2% a cirurgia, refere o estudo que é divulgado hoje na apresentação da Aliança para o Cancro do Pulmão, um novo projeto que reúne várias entidades.

Uma das conclusões do estudo aponta que 92% dos inquiridos diz conhecer alguém que teve cancro e perto de 30% conhece ou já conheceu alguém com cancro do pulmão.

“O cancro da mama é, de forma destacada, o tipo de tumor que registou maior ‘proximidade’ entre os inquiridos (51,4%), seguido do pulmão (28,4%), do estômago (17,7%), do colorretal (15,4%), do pâncreas 11,2%, da próstata 11% e do colo do útero.

O inquérito, elaborado pela Técnica Spirituc Investigação Aplicada, indica também que 43% dos inquiridos considera o cancro do pulmão bastante mais grave do que a generalidade dos outros tumores.

Os resultados indiciam que a “proximidade” com este tumor tem um impacto direto na perceção da sua gravidade e que quanto maior o grau de conhecimento dos inquiridos sobre esta doença, maior a gravidade que lhe atribuem comparativamente a outros cancros.

Questionados sobre os comportamentos de risco, 93,7% apontam o tabagismo, 42% fatores ambientais, 15,2% hábitos alimentares, 12,5 contexto profissional, 12% fatores genéticos, 8% sedentarismo, 4,7% exposição a produtos tóxicos, 2,5% outras doenças associadas e 1,8% fumar passivamente.

Há 1,2% que consideram não existir comportamentos de risco, refere o estudo.

Tendencialmente, quanto maior o nível de instrução dos inquiridos, maior o número de referências que estes fazem aos fatores genéticos e ambientais enquanto fatores de risco para o cancro do Pulmão

Na perceção dos inquiridos 68% das pessoas com cancro do pulmão, são ou foram fumadoras.

Ainda que as diferenças não sejam muito expressivas, o estudo realça que “a população residente em ambiente urbano (70%) tende a associar mais o tabagismo ao cancro do pulmão do que a população residente em meio rural (64%).

Relativamente aos principais sintomas da doença, 62,3% referem a falta de ar, 46,8% tosse persistente, 35,8% cansaço, 24,7% tosse com sangue, 16,5% dor torácica, 15,3% perda de peso, 14,8% dores nas costas, 9,8% falta de apetite. Há 7,7% que não sabe identificar qualquer sintoma do tumor maligno.

A idade dos inquiridos está diretamente relacionada com o facto de nunca terem ido a uma consulta de Pneumologia. Ainda assim, quase 40% dos inquiridos com mais de 74 anos nunca foi a uma consulta da especialidade.

“Se no caso dos homens, cerca de metade dos inquiridos afirmou já ter tido oportunidade ou necessidade de ser consultado por um pneumologista, no caso das mulheres, quase 70 reconheceu nunca ter ido a uma consulta desta especialidade”, sublinha.

Um terço dos inquiridos acredita que, nos próximos 5 anos, o número de doentes com cancro do pulmão curados aumentará significativamente.

Um terço dos inquiridos num estudo reconhece ter pouco conhecimento sobre cancro do pulmão

Um em cada três inquiridos num estudo sobre o cancro do pulmão reconhece ter um “conhecimento muito limitado” sobre a doença e mais de metade desconhece a existência de rastreios para este tumor.

As conclusões apontam que “os cidadãos com menos recursos económicos, com mais baixa taxa de escolaridade e que vivem afastados dos grandes centros são aqueles que menos informação e menos conhecimento têm sobre a doença, sobre os tratamentos possíveis para essa doença e sobre o resultado desses tratamentos”, disse à agência Lusa o diretor do serviço de oncologia médica do Centro Hospitalar Universitário do Porto, António Araújo.

Por outro lado, observou o oncologista, “mesmo nos grandes centros, mesmo com população mais informada em termos de saúde, mantém-se um grau baixo de conhecimento acerca desta patologia e acerca de tudo o que a rodeia”.

Segundo o estudo, que é divulgado hoje na apresentação da Aliança para o Cancro do Pulmão, 34% dos inquiridos admite ter um conhecimento muito limitado sobre o cancro do pulmão, 39% um conhecimento intermédio e 19,5% diz ter algum conhecimento.

Apenas 8,8% admite ter um “elevado conhecimento” sobre o cancro do pulmão, o tumor maligno que mais mata, tendo vitimado mais de 4.600 portugueses em 2018, refere o estudo divulgado no Dia Internacional da Luta Contra o Cancro.

Mais de metade dos participantes (55,2%) desconhece a existência de rastreios para o cancro do pulmão, 37,2% diz conhecer e 7,7% diz que não existem, adianta o inquérito realizado a uma amostra representativa da população portuguesa com mais de 18 anos, com telefone fixo ou móvel, constituída por 600 questionários.

Entre os 37,2% que reconhece a existência de rastreios, 82,1% não tem conhecimento de rastreios na sua região e 86,1% nunca fez um rastreio.

Para António Araújo, o estudo vem demonstrar que continua a haver “um grande grau de iliteracia da população portuguesa” no que respeita à saúde em geral e ao cancro do pulmão em particular.

“Há um grande trabalho a fazer no sentido de esclarecer as populações, sensibilizar os cidadãos, não só para os fatores de risco desta doença, mas também para os tipos de tratamentos que têm surgido, nomeadamente as terapias dirigidas a alvos celulares específicos e a imunoterapia”, defendeu.

O oncologista, que faz parte da Aliança para o Cancro do Pulmão, um projeto que reúne várias entidades, destacou a importância de o cidadão estar “mais e melhor informado”.

“Ganha poder, ganha conhecimento, que lhe permitirá depois decidir sobre os tratamentos que deve fazer e as opções que pode tomar acerca da sua doença e do seu tratamento”, disse, sublinhando que, caso contrário, irá basear-se em preconceitos e em mitos que não refletem a realidade.

O estudo revela uma tendência de quanto maior o grau de escolaridade dos inquiridos, menor a sua crença em mitos como “não existe nenhum tratamento específico para o cancro do pulmão”.

Segundo o inquérito elaborado pela Spirituc Investigação Aplicada, 79% dos participantes considera que deveria existir mais informação e divulgação sobre esta doença e 92% referiu ter preocupação em manter-se informado sobre temas de saúde.

O inquérito decorreu entre os passados dias 14 e 20 de janeiro e foi realizado a uma amostra representativa da população portuguesa com mais de 18 anos, com telefone fixo ou móvel, constituída por 600 questionários.