Estudantes, professores, representantes de movimentos sociais e sindicatos, assim como um grande número de manifestantes independentes sem bandeiras, reuniram-se na praça em frente ao Congresso Nacional, em Buenos Aires, epicentro do protesto, que também foi replicado nas principais cidades do país.

A manifestação repudia o veto prometido por Milei a uma lei aprovada em 13 de setembro pelo Congresso, que aumenta os salários de professores e funcionários da universidade pública para compensar o impacto da inflação, que em agosto atingiu 236% em 12 meses.

O presidente tem até quinta-feira para formalizar o veto, e os manifestantes esperavam pressionar o Congresso para que não fosse ratificado. Segundo a imprensa local, o governo estava a negociar intensamente com legisladores para garantir a sua confirmação.

"Não ao veto ao financiamento universitário!", dizia um cartaz com a imagem de Mafalda, a irreverente personagem de quadrinhos que é símbolo da rebeldia na Argentina. "Educação não se veta, educação se respeita", exclamava outro.

Ana Hoqui, psicóloga formada pela Universidade de Buenos Aires, contou que veio de uma cidade do interior da província de Buenos Aires e só conseguiu estudar graças ao "grande sacrifício" dos seus pais.

"Jamais ter-me-ia tornado numa profissional se não existisse a universidade pública e gratuita. Sinto muito orgulho de que ela tenha, além disso, tanto prestígio", disse a mulher de 30 anos, referindo-se a essa instituição que já conquistou cinco prémios Nobel.

O governo qualificou a marcha como "política" e as reivindicações por aumentos salariais dos professores como "injustificadas", num cenário social cada vez mais tenso e um declínio acentuado da popularidade do presidente, segundo as sondagens.

Milei partilhou nesta quarta-feira uma caricatura que mostra um manifestante como marioneta sendo controlada pelo senador Martín Lousteau, que por sua vez é controlado pela ex-presidente Cristina Kirchner.

A marcha capitalizou o descontentamento social perante a recessão e o aumento da pobreza em 11 pontos percentuais no primeiro semestre do governo Milei, que alcançou 53% da população e é considerado o maior nível em mais de duas décadas.

Lousteau afirmou ao canal de notícias LN+ que "a educação universitária é a única coisa que permite pensar que o futuro pode ser diferente, que alguém na família consiga um diploma universitário".

No discurso de encerramento do ato, a presidente da Federação Universitária Argentina, Piera Fernández, pediu a Milei que "o veto não prospere".

"Estudantes de toda a Argentina pedimos, em um grito de socorro para salvar o sistema: promulgue a Lei de Financiamento Universitário!", declarou.

Mas o governo classificou os legisladores como "degenerados fiscais" por aprovarem uma lei cujo impacto fiscal foi estimado em 0,14% do Produto Interno Bruto (PIB), segundo o Gabinete de Orçamento do Congresso.

"O que nos opomos é que o Congresso aprove leis que não tenham um item orçamentário atribuído, ou seja, que não possam ser financiadas", disse o porta-voz presidencial Manuel Adorni na segunda-feira.

"Sinto medo", afirmou à AFP Manuel Domínguez, um aluno de ciências sociais de 20 anos. "Serão anos de muita luta [porque] não pode um professor ganhar o mesmo que um motorista de autocarro", acrescentou.

Em 23 de abril, estudantes e professores universitários organizaram uma enorme marcha em defesa do setor, a maior até agora contra uma política de Milei, após a qual o governo reforçou fundos para despesas de infraestruturas e hospitais universitários.