A ministra realça que a obra de Leonor Xavier “constitui uma memória única e viva das relações sociais e culturais entre Portugal e o Brasil, que alargou e reforçou as pontes entre estes dois países”.
Leonor Xavier emigrou para o Brasil em 1975, o que constituiu, como escreveu, “a grande guinada” da sua vida, “a descoberta da vida rasgada, ali clandestinamente à [sua] espera”, como cita a nota ministerial.
A escritora, licenciada em Filologia Românica pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, foi uma “estudiosa das relações culturais entre Portugal e o Brasil”, recorda Graça Fonseca, que acrescenta: “A ela devemos um olhar aceso e incisivo sobre o que de mais vivo une os dois povos, em obras que refletem sobre a experiência da emigração portuguesa no Brasil, como ‘Contributo para a história dos portugueses no Brasi’ (1983) ou ‘Portugueses do Brasil e brasileiros de Portugal’ (2016)”.
A ministra Graça Fonseca refere-se a Leonor Xavier como uma “escritora em todas as dimensões – na crónica, na biografia, no jornalismo, no conto e no romance”, e aponta-a como “um símbolo de liberdade de pensamento e exemplo de uma vida feita na defesa dos princípios humanistas, pelos quais sempre lutou”.
“Com uma obra e uma atividade cívica abrangentes, é também em Leonor Xavier que devemos pensar quando falamos de direitos da mulher e de feminismo, numa autora que sempre procurou, nos diálogos que foi mantendo com os leitores — na imprensa ou na literatura — esboçar uma reflexão aguda sobre as relações humanas”, lê-se no comunicado.
“A partir da sua experiência pessoal, Leonor Xavier construiu uma obra feita de narrativas amplas e que iluminam os matizes de uma experiência de continuidade e mudança nas vivências de quem, a partir de Portugal, emigrou para o Brasil”, acrescenta a ministra da Cultura.
Para Graça Fonseca, “com um olhar atento e perspicaz, transversal aos seus textos, Leonor Xavier deixa um testemunho de grande valor na cultura que se expressa em língua portuguesa, sendo a sua própria voz exemplo desta língua construída em múltiplas tonalidades irmãs”.
A Sociedade Portuguesa de Autores (SPA) também emitiu uma nota de pesar pela morte de Leonor Xavier, recordando que fez parte, “em três mandatos, dos órgãos sociais da cooperativa, designadamente na direção e no conselho fiscal”.
A SPA realça que a biógrafa dos atores Maria Barroso (1925-2015) e Raul Solnado (1929-2009) ingressou na cooperativa “como beneficiária (…) em abril de 1990 e como cooperadora em 1995”.
Na nota de pesar, a SPA faz uma resenha da biografia da autora, referindo também a sua residência no Brasil, entre 1975 e 1987, tendo sido “durante vários anos correspondente do Diário de Notícias. Já em Lisboa foi redatora da revista Máxima”.
A 23 de abril de 1987, Leonor Xavier foi agraciada com o grau de Oficial da Ordem do Mérito.
Em 2016, venceu o Prémio Bento Domingues com o livro “Passageiro Clandestino”, em que dá testemunho da sua experiência como doente de cancro.
Leonor Xavier é também autora de uma biografia do último ministro dos Negócios Estrangeiros da ditadura do Estado Novo, Rui Patrício.
Na área da ficção publicou “Ponte Aérea”, “O Ano da Travessia” e “Só Eram Verdade os que Partiram”.
“Casas Contadas” é a sua autobiografia, publicada em 2009, que no ano seguinte lhe valeu o Prémio Máxima de Literatura.
Em 2017 publicou “Peregrinações”, no centenário das supostas aparições em Fátima.
A responsável editorial do Círculo de Leitores e da Temas e Debates, Guilhermina Gomes, onde Leonor Xavier publicou algumas das suas obras, incluindo a última, “Há laranjeiras em Atenas” (2019), a disse à agência Lusa que estava em preparação um livro, a que Leonor deu o título “Adolescência”, mas que “infelizmente não o chegará a ver”. A obra será futuramente publicada, adiantou.
A escritora e jornalista Leonor Xavier morreu no domingo, aos 78 anos, no Instituto Português de Oncologia, em Lisboa, onde estava internada.
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