Se nunca ouviu falar nem sabe o que é um vombate, a apresentação deste marsupial de origem australiana pode ser feita da seguinte forma: é rechonchudo, tem muitas fotos espalhadas na Internet ao estilo do globalmente amado koala e é parecido com um texugo. Mas é conhecido sobretudo por produzir dejetos em forma de um sólido de seis faces quadradas iguais entre si.

Ora, descobrir o mistério e a razão que leva aos vombates produzirem fezes em forma de cubo há muito que é um quebra-cabeças para a comunidade científica que estuda o fenómeno animal, mas agora uma nova investigação parece ter dado finalmente a resposta a este insólito da mãe-natureza.

De acordo com o The Guardian, uma das conclusões prementes e quiçá a descoberta mais importante, é a de que a forma do cubo é formada dentro dos intestinos — e não no ponto de saída, como inicialmente se pensava.

Dissecar este tema (mistério) é algo recente mas não surgiu em 2021. Aliás, este artigo segue as conclusões preliminares de uma investigadora do Instituto de Tecnologia da Geórgia, especialista em fluidos corporais, em 2018. É que os cubos parecem ser realmente muito raros na natureza.

Explica a investigadora que atualmente existem dois métodos de fabrico de cubos: ou os seres humanos moldam os cubos a partir de materiais maleáveis ou cortam-nos a partir de objetos mais rígidos. "Os vombates têm uma terceira via", elucida ainda.

A National Geographic cobriu o assunto na altura e explica que a crença popular de que os vombates defecam em formatos geométricos para os puderem empilhar (fazer uma espécie de pirâmide) de modo a marcar território (como não são redondos não rolam) não é válida. Ou seja, o postulado foi prontamente colocado de parte: o marsupial apenas sente a necessidade biológica e faz "onde calha".

Agora, ficou a saber-se mais. Scott Carver, especialista em vida selvagem da Universidade da Tasmânia e um dos autores do trabalho de investigação mais recente, enfatiza que "existiam hipóteses maravilhosamente coloridas à volta" desta inusitada questão, "mas que ninguém as tinha testado".

Como relatado pelo The Guardian, havia a especulação de que os vombates tinham um esfíncter quadrado do ânus e que as fezes eram espremidas entre os ossos pélvicos — não eram. Segundo revelou o investigador, morreu também por terra a ideia "completamente disparatada" de que o animal moldava as fezes em cubo depois de as depositarem.

Mas como surge a ideia de estudar este dejeto em formato pouco natural? A resposta chega à boleia da curiosidade. Mas essencialmente para resolver o puzzle de como se produzem os cubos dentro essencialmente de um tubo macio.

Recuando aos resultados preliminares do estudo de 2018, Carver frisa que "nessa altura os investigadores acreditavam que existiam quatro regiões rígidas e quatro regiões flexíveis". Ora, aquilo que a investigação final confirmou é que o intestino do vombate tem duas regiões rígidas e duas flexíveis.

Questionado porque é que o marsupial tem esta característica, o investigador explicou que uma teoria em cima da mesa passa pelo facto de estes, com o seu forte sentido de olfato, comunicarem uns com os outros através das fezes e que a forma do cubo ajuda a evitar que estas rebolem — as fezes em forma de cubo rebolam muito menos do que os modelos em forma esférica.

A questão é importante, explica Scott Carver, porque além dos benefícios de uma melhor compreensão dos próprios animais, a descoberta abre caminho a uma nova forma de fabricar cubos dentro de um tubo macio, situação que poderia ser aplicada a outros campos da ciência como a patologia clínica ou a saúde digestiva.