“No nosso entender eles foram assassinados por motivos políticos (…) Foi uma morte planificada e preparada (…), tendo em conta também o contexto em que estamos, com o partido a fazer uma luta pela luta justiça eleitoral. Estamos a terminar agora impugnações a nível dos distritos porque as eleições foram fraudulentas”, declarou Albino Forquilha, presidente do Povo Optimista para o Desenvolvimento de Moçambique (Podemos), em declarações à comunicação social no local onde as duas vítimas perderam a vida, no centro de Maputo.

Elvino Dias e Paulo Guambe foram mortos a tiro por volta das 23:20 locais (menos uma hora em Lisboa) de sexta-feira, na avenida Joaquim Chissano, centro da capital, e, segundo a polícia, um outro ocupante, uma mulher que seguia nos bancos traseiros da viatura, foi igualmente atingida a tiro, tendo sido transportada para o Hospital Central de Maputo.

O porta-voz da Polícia da República de Moçambique, Leonel Muchina, avançou hoje à Lusa que as vítimas tinham estado a confraternizar num mercado de Maputo, tendo ocorrido “supostamente” uma “discussão derivada de assuntos conjugais”, de onde “posteriormente terão sido seguidos”.

O líder daquele partido afasta essa hipótese, considerando que os responsáveis pelo duplo homicídio usaram armas do tipo AK47.

“Estes assassínios que ocorreram aqui não diferem do que aconteceu em 2019 [ano em que o ativista moçambicano Anastácio Matavel foi morto a tiro por um grupo composto por elementos das forças policiais, nas vésperas das eleições gerais]. São pessoas do nosso sistema, comandados pela Frente de Libertação de Moçambique [Frelimo]”, declarou Forquilha, lembrando que os duas vítimas, que estiveram envolvidas na fundação do partido, desempenhavam um papel fundamental na luta pela justiça eleitoral que o partido está desencadear.

O Podemos, registado em maio de 2019, é fruto de uma dissidência de antigos membros da Frelimo, que pediam mais “inclusão económica”, tendo abandonado o partido no poder, na altura, alegando “desencanto” e diferentes ambições.

A polícia moçambicana confirmou hoje que a viatura em que seguiam Elvino Dias, advogado do candidato presidencial Venâncio Mondlane, e Paulo Guambe, mandatário do Podemos, partido que o apoia, mortos a tiro, foi “emboscada” e um terceiro ocupante ferido.

“Foram abordados e bloqueados por duas viaturas ligeiras de onde desembarcaram indivíduos que, munidos de armas de fogo, fizeram vários disparos que provocaram ferimentos e a morte dos indivíduos acima identificados”, disse à Lusa o porta-voz da Polícia da República de Moçambique (PRM) da cidade de Maputo, Leonel Muchina.

Durante toda a madrugada circularam em Moçambique vídeos de extrema violência sobre as duas vítimas, com a viatura a ser atingida aparentemente por mais de duas dezenas de tiros.

O advogado Elvino Dias, conhecido defensor de casos de direitos humanos em Moçambique, era assessor jurídico de Venâncio Mondlane e da Coligação Aliança Democrática (CAD), formação política que apoiou inicialmente aquele candidato a Presidente da República de Moçambique, até a sua inscrição para as eleições gerais de 09 de outubro ter sido rejeitada pela Comissão Nacional de Eleições (CNE).

Venâncio Mondlane viria depois a ser apoiado na sua candidatura pelo partido Povo Otimista para o Desenvolvimento de Moçambique (Podemos), cujo mandatário nacional das listas às legislativas e provinciais, Paulo Guambe, também seguia na viatura alvo do crime.

As eleições gerais de 09 de outubro incluíram as sétimas presidenciais – às quais já não concorreu o atual chefe de Estado, Filipe Nyusi, que atingiu o limite de dois mandatos – em simultâneo com as sétimas legislativas e quartas para assembleias e governadores provinciais.

A CNE tem 15 dias, após o fecho das urnas, para anunciar os resultados oficiais das eleições, data que se cumpre em 24 de outubro, cabendo depois ao Conselho Constitucional a proclamação dos resultados, após a conclusão da análise, também, de eventuais recursos, mas sem um prazo definido para esse efeito.

As comissões distritais e provinciais de eleições já concluíram o apuramento da votação das eleições gerais de 09 de outubro, que segundo os anúncios públicos dão vantagem à Frelimo, partido no poder, e ao candidato presidencial que o partido apoia, Daniel Chapo, com mais de 60% dos votos, embora o candidato presidencial Venâncio Mondlane conteste esses resultados, alegando com os dados das atas e editais originais da votação, que recolhe em todo o país.

Venâncio Mondlane garantiu na quinta-feira, na Beira, centro de Moçambique, que após o anúncio dos resultados das eleições gerais ia recorrer ao Conselho Constitucional, com as atas e editais originais da votação.

O Governo português, a União Europeia e as representações diplomáticas em Maputo dos Estados Unidos da América, Canadá, Noruega, Suíça e do Reino Unido condenaram estes assassínios, e apelaram a uma investigação cabal e rápida.