Em entrevista ao programa Hora da Verdade, da Rádio Renascença e jornal Público, hoje divulgada, Montenegro traça como objetivo vencer as eleições europeias de 2024 e não diz se pretende a continuidade do líder parlamentar recém-eleito, Paulo Mota Pinto.
Questionado se teme ser visto como um candidato ligado a Pedro Passos Coelho – tal como o seu potencial adversário interno nas diretas de 28 de maio, Jorge Moreira da Silva -, admitiu que essa será “a conversa do PS”, mas disse ter orgulho e não vergonha do seu passado.
“Quem deve ter problemas com o seu passado é o dr. António Costa, o meu passado chama-se Pedro Passos Coelho e o passado do dr. António Costa chama-se José Sócrates”, referiu.
Questionado se espera que a proposta de Orçamento de Estado, que hoje será conhecida, possa dar resposta aos problemas do país, o candidato à presidência do PSD disse ter “muitas dúvidas”.
“A única coisa nova que apareceu foi a inenarrável proposta ou pré-proposta do ministro da Economia, que foi a criação de mais um imposto. Qual é a resposta às dificuldades que o PS vai trazer? Mais impostos, a resposta de sempre”, criticou.
Confrontado com a posição do atual presidente do PSD, Rui Rio, que disse concordar que lucros inesperados devido ao contexto da guerra possam ter uma taxação específica, Montenegro respondeu: “Mas eu discordo, eu discordo, acho que é um sinal absolutamente contrário e negativo”.
Já questionado se concorda com o líder parlamentar do PSD, Paulo Mota Pinto, de que vem aí austeridade encapotada, Montenegro foi mais longe.
“Não é encapotada, é direta, a austeridade do dr. António Costa nunca foi encapotada (…) Ele é um defensor da austeridade embora diga o contrário”, acusou.
Na sua primeira entrevista desde que anunciou ser candidato à presidência do PSD, Montenegro disse não querer contribuir para a “discussão estéril” sobre o posicionamento ideológico do partido, e desvalorizou a relação com o partido Chega.
“O campeonato do PSD não é estar a fazer competição com o Chega, o meu campeonato e o campeonato do PSD é vencer o PS”, disse, assegurando que não irá entrar “em diálogo direto” com o partido liderado por André Ventura.
Montenegro responsabilizou, neste ponto, PS, primeiro-ministro e até o presidente da Assembleia da República – “atual e anterior” – pela centralidade dada ao Chega.
“Gostam de criar casos com o Chega porque a forma habilidosa como o fazem transforma o Chega num ator político parlamentar central, e é isso que o PS quer (…) Há uma habilidade política clara em tornar um não assunto num assunto, eu não vou embarcar nisso, não vamos entrar nesse tipo de jogo”, disse.
Na entrevista ao Público e Renascença, e sobre a relação com a bancada, Montenegro adiantou que terá um gabinete na Assembleia da República e salientou que “o líder parlamentar por definição terá de ter a confiança dos deputados”.
No entanto, o candidato não diz se pretende a continuidade de Paulo Mota Pinto, eleito na semana passada com 92% dos votos, remetendo para depois do Congresso do início de julho “o desenho” completo das novas equipas dirigentes.
“Neste momento, o grupo parlamentar tem uma direção eleita, completamente legitimada, tem um mandato pela frente, avaliaremos em conjunto o que fazer para poder conjugar toda a mecânica de funcionamento dos órgãos nacionais do PSD”, disse, acrescentando ter a “certeza absoluta” de que não enfrentará qualquer hostilidade por parte dos deputados.
Caso vença as diretas de 28 de maio, Montenegro já traçou a meta para a primeira eleição externa que enfrentará, as europeias daqui a dois anos.
“Vamos apresentar uma candidatura em 2024 para vencer as eleições europeias”, disse, admitindo que poderá haver “algum refrescamento” nos candidatos, mas sem falar ainda em nomes.
Se for o próximo presidente do PSD, assegura que contará com Moreira da Silva – “nas funções que pudermos encontrar para o efeito” – e também com Carlos Moedas.
“Será seguramente um elemento preponderante neste caminho, o sucesso dele na Câmara de Lisboa será também um elemento catalisador do sucesso do projeto político do PSD nos próximos anos”, disse.
Questionado como se deve posicionar o PSD num referendo à regionalização que o PS defendeu na campanha eleitoral, Montenegro disse apenas que, “a haver” consulta popular, devem manter-se as atuais regras previstas na Constituição, mas considerando o “tema extemporâneo”, defendendo que primeiro deve ser avaliado o processo de descentralização em curso.
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