“Nós tendemos a falar de liderança personalizando a coisa, de uma vez por todas em Portugal convém discutir o que faz de alguém um bom líder”, defendeu, no final da apresentação do seu livro “Direito ao Futuro: por um mundo mais justo, mais verde e mais seguro", que decorreu na Fundação Calouste Gulbenkian,
Na sua ótica, que admitiu fugir aos cânones “do carisma, do histrionismo ou do que cabe num ‘tweet’”, “um líder tem de ser um líder servidor”, dizendo que tal se aplica a qualquer tipo de liderança, indo desde partidos, a países, passando por empresas ou organizações não governamentais.
“Um líder servidor mede o seu êxito pelo impacto que as suas medidas e decisões tem na vida dos outros”, defendeu.
Questionado pelos jornalistas, Moreira da Silva recusou falar sobre atuais ou futuras lideranças do PSD ou até sobre o seu próprio futuro político.
“Hoje o tema é o livro, este livro é sobre o direito ao futuro, não é sobre o meu futuro, nem sobre o futuro de qualquer candidatura política que possa estar a ser ponderada”, apontou.
Moreira da Silva considerou que existe “preguiça no debate político em Portugal”, recusando uma “lógica de futebolização da política”, e defendendo que um líder deve conciliar “a capacidade de comunicação, de envolvimento com as pessoas”, com "a densidade, o conhecimento, a capacidade de reformar”.
“Em Portugal exageramos na conversa sobre partidarite e falamos muito pouco de política, das políticas públicas. O líder servidor privilegia, em primeiro lugar, a densidade das políticas públicas, a estabilidade, a inovação, a reforma, e não tanto o querer gritar mais alto ou vencer a todo o custo”, defendeu.
Na sua intervenção perante uma plateia cheia de notáveis do PSD e do CDS-PP, Jorge Moreira da Silva confessou a sua “obsessão por reformas” e considerou que só esse caminho permitirá “reabilitar o direito ao futuro” dos mais jovens.
“A falta de ambição e de acerto na resposta aos desafios globais e aos quase crónicos problemas nacionais traduz-se, em termos práticos, numa hipoteca cujo pagamento estamos a endossar aos nossos filhos e aos nossos netos. Estamos a viver a crédito das próximas gerações e do planeta”, alertou
Entre esses desafios apontou o combate às alterações climáticas e à extinção da biodiversidade, às desigualdades e à pobreza ou uma melhor forma de lidar com a crise dos refugiados.
“Vejo no serviço aos outros uma missão e não uma adição, existe muita gente em Portugal e no mundo viciada em política, entre o entretenimento e o deslumbramento com a política. Eu sou um bocadinho mais chato”, afirmou, reiterando que “só vale a pena estar na política com sentido de missão”, mas que para isso é preciso liberdade.
“Gosto muito da política, mas não dependo dela”, salientou Moreira da Silva, que é desde 2016 diretor para a Cooperação e Desenvolvimento na OCDE em Paris, onde lidera o secretariado do Comité de Ajuda ao Desenvolvimento, e fundador do grupo de reflexão Plataforma para o Crescimento Sustentável.
Foi líder da Juventude Social-Democrata, deputado, eurodeputado, e primeiro vice-presidente do PSD, durante a liderança de Pedro Passos Coelho, tendo sido no seu Governo ministro do Ambiente, Ordenamento do Território e Energia.
Em novembro do ano passado, defendeu a realização de um congresso extraordinário do PSD para clarificar a estratégia de “coligações e entendimentos” da direção de Rui Rio e atacou a “traição” aos valores do partido pela solução governativa nos Açores, com o Chega.
Em entrevista ao JN/TSF este verão, admitiu poder vir a “fazer uma reflexão” quanto a uma futura candidatura à liderança do partido, mas nunca antes das autárquicas de 26 de setembro.
Na cerimónia, marcaram presença o anterior Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, o ex-primeiro-ministro Pedro Passos Coelho e muitos dos membros do executivo PSD/CDS-PP que liderou, como Paulo Portas (que apresentou o livro), Maria Luís Albuquerque, Assunção Cristas, Pires de Lima, Mota Soares, Marco António Costa, Paulo Macedo, Paulo Núncio, Fernando Leal da Costa ou Jorge Barreto Xavier.
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