“A Mísia morreu num hospitalar em Lisboa, disse Zimmler, remetendo para “mais tarde” outros pormenores pela agência da  criadora de “Mistérios do Fado” (João Monge/Manuel Paulo).

“Partiu em paz, docemente, sem dores, rodeada dos amigos”, acrescentou Zimmler.

Susana Maria Alfonso de Aguiar nasceu no Porto e protagonizou uma carreira de cerca de 34 anos, durante a qual atuou nos mais variados palcos do mundo e recebeu diferentes prémios, entre eleso galardão francês Charles Cross pelo seu álbum “Garra dos Sentidos”, no qual gravou poemas de Natália Correia, Mário Cláudio, Lídia Jorge, José Saramago, Lobo Antunes, Fernando Pessoa, Mário de Sá Carneiro, e António Botto.

Mísia editou o seu primeiro álbum, homónimo, em 1991.

Em 2022, Mísia editou o álbum "Animal Sentimental", parte de um projeto tríptico sobre trinta anos de carreira, que inclui um livro, com o mesmo título e saído no verão desse ano e estreou um novo espetáculo.

Tiago Torres da Silva, Fernando Pessoa, Mário Cláudio, Natália Correia, Vasco Graça Moura e Lídia Jorge foram os autores escolhidos por Mísia para "Animal Sentimental".

No livro, autobiográfico, a fadista conta episódios inéditos da sua carreira, recuando às memórias de infância e da adolescência, os tempos do colégio interno, gerido por freiras, no Porto, a avó catalã e a mãe, bailarina de flamenco, uma biografia, que como disse à Lusa, a partir de 1991, começou a ser fixado nos discos".

No livro, a cantora narrou a sua luta contra o cancro, que lhe foi diagnosticado três vezes.

Além da estreia com "Mísia" (1991), gravou registos como "Garras dos sentidos" (1998), "Canto" (2003) e "Ruas" (2009).

Em 2004 foi condecorada com a Ordem das Artes e das Letras de França e no ano seguinte foi distinguida com a Ordem de Mérito da República Portuguesa.

Governo realça que “foi uma voz fundamental na renovação do fado”

A ministra da Cultura, Dalila Rodrigues, considerou hoje que Mísia “foi uma voz fundamental na renovação do fado”, numa nota de pesar pela morte da fadista.

“Com uma vasta carreira, Mísia foi uma voz fundamental na renovação do fado, sem receio de experimentar novas sonoridades e abordagens menos convencionais” afirmou, referindo que “granjeou o reconhecimento dos seus pares”.

“Deixa-nos uma vasta lista de colaborações com músicos de todo o mundo, que demonstra a sua versatilidade e o seu talento”, refere ainda a titular da Cultura que apresenta “aos seus familiares, amigos e admiradores”, “as mais sentidas condolências”.

Mísia morreu hoje num hospital de Lisboa, aos 69 anos.

A criadora de "Adeus ao Vento" (Vitorino Salomé/Fado Perseguição, de Carlos da Maia) iniciou a carreia nos começos da década de 1990, e levou-a a interpretar outros géneros, nomeadamente a canção napolitana, mas também alguns “standards” do jazz, como “Summertime”, e repertório das canções espanhola e francesa.

O álbum "Drama Box", editado em 2005, contou com a participação de Fanny Ardant, Miranda Richardson, Ute Lemper, Carmen Maura, Maria de Medeiros e Sophia Calle.

O álbum “Pura Vida - Banda Sonora” valeu-lhe, em 2019, o Phonographic Critics Award, prémio da crítica discográfica alemã.

“Pura Vida - Banda Sonora” é uma coprodução da promotora Liberdades Poéticas com o Museu do Fado, e que a fadista apresentou no primeiro semestre de 2020 em 15 palcos internacionais, tendo aberto a digressão, no no Le Cigale, em Paris, e passando, entre outras cidades, por Casablanca, Viena, Buenos Aires e São Paulo, entre outras.

“Pura Vida - Banda Sonora” inclui, entre os autores, anteriormente gravados por Mísia, como Vasco Graça Moura, Miguel Torga e Jorge Muchagato.

A fadista fez parte do elenco do filme “Passione” (2010), de John Tuturro.