A morte do cartunista argentino foi confirmada pelo seu editor, Daniel Divinsky, no Twitter. A causa da morte não foi anunciada.

De acordo com o jornal argentino Clarín, Quino morreu na sequência de um acidente vascular cerebral que sofreu na semana passada.

Filho de espanhóis, nascido em 1932, Joaquín Salvador Lavado, conhecido como Quino, desenhou e publicou vários livros de desenho gráfico para um público mais adulto, nos quais predomina um humor corrosivo e negro sobre a realidade social e política.

Quino foi o criador de histórias em banda desenhada mais traduzido da língua espanhola. O seu nome ficará para sempre ligado à mais famosa das suas personagens: Mafalda, contestatária, refilona, pessimista, sempre com as suas metáforas sobre problemas políticos e sociais.

Face a graves problemas de saúde — foi sujeito a seis operações cirúrgicas em apenas 10 anos — deixou de desenhar, com regularidade, em 2006.

Em 2014, venceu o Prémio Príncipe das Astúrias de Comunicação e Humanidades.

Comic book artist Quino wins 2014 Prince of Asturias Award for Communication and Humanities
créditos: EPA/JOSE LUIS CEREIJIDO

Mafalda, 'a' personagem

Apesar de ter sido criada em 1962, para a promoção de uma gama de eletrodomésticos, a famosa personagem de banda desenhada só apareceu pela primeira vez - carrancuda, com farta cabeleira negra - a 29 de setembro de 1964, no semanário argentino Primera Plana.

Filha de uma família da classe média argentina, Mafalda questiona a Humanidade e a existência da sopa, de dedo em riste e quase sempre com um ar preocupado. Uma "heroína zangada que recusa o mundo tal como ele é", descreveu Umberto Eco em 1969.

Quino foi publicando as tiras de BD da Mafalda - e de uma galeria de personagens que inclui Manelito, Filipe, Susanita, Miguelito, Liberdade e uma tartaruga chamada Burocracia - ao longo de nove anos e em vários jornais, ao mesmo tempo que mantinha o trabalho no desenho gráfico de humor.

Contra a maré de sucesso, o autor decidiu não mais publicar as tiras semanais a 25 de junho de 1973, abrindo exceções para pedidos especiais, como quando desenhou Mafalda, em 1977, para uma campanha da UNICEF para os direitos das crianças.

Em Portugal, Mafalda foi publicada pela primeira vez em 1970 e desde então sairam vários álbuns e edições especiais.

Hoje, o jornal espanhol recorda ainda a resposta de Quino quando lhe perguntaram como seria Mafalda, na atualidade. Segundo o El País, Quino contrapôs que provavelmente essa "menina sábia" estaria morta, porque seria um dos desaparecidos da ditadura militar argentina (1976-1983).

Em 2016, numa entrevista à agência Efe, por ocasião da Feira do Livro de Buenos Aires, Quino afirmava que o mundo atual seria para a personagem Mafalda "um desastre e uma vergonha".

"Olhando as coisas que fiz todos estes anos, percebo que digo sempre as mesmas coisas e que continuam atuais. É terrível… não?", referiu Quino, a propósito dos seus temas de sempre: "A morte, a velhice, os médicos e outras coisas", como as injustiças sociais, a pobreza.

Profundamente tímido e reservado, Quino reconheceu na mesma entrevista que gostaria de ser recordado como "alguém que fez pensar as pessoas sobre as coisas que acontecem".

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