"Lamentamos o falecimento de Gilberto ontem à noite", afirmou por e-mail o advogado David Oscar Markus, sem revelar a causa da morte. Até ser capturado em 1995, o "Jogador de Xadrez" comandou o poderoso cartel de Cali junto com o seu irmão, Miguel, de 78 anos, também preso nos Estados Unidos desde 2005.

Gilberto chegou a ser considerado por Washington o narcotraficante mais poderoso do mundo após a morte de Pablo Escobar.  Ele e o irmão chegaram a colaborar com as autoridades para acabar com Escobar, famoso chefe do cartel de Medellín, morto pela polícia em 1993.

Gilberto foi capturado em 1995 e condenado a 15 anos de prisão por tráfico de droga, dos quais cumpriu apenas sete anos e três meses. Recuperou a liberdade em 2002, mas voltou a ser preso em Cali em 2003, acusado de enviar de 150 quilos de cocaína para a cidade norte-americana de Tampa, no estado da Flórida.

Um ano depois foi extraditado para Estados Unidos, sendo condenado a 30 anos de prisão por narcotráfico e lavagem de dinheiro.

O cartel de Cali, que segundo os Estados Unidos chegou a controlar 80% dos envios de cocaína para aquele país, foi desmantelado em meados da década de 1990. Quase quatro décadas depois, a Colômbia volta a ser o maior produtor mundial de cocaína e o mercado americano é seu o principal destino. No caminho ficaram chefes do tráfico, juízes e agentes sem que o negócio tenha perdido força.

Nos seus últimos anos de vida, o "Jogador de Xadrez", um homem de origem humilde — quando jovem fazia entregas de bicicleta — esteve gravemente doente com cancro — um da próstata e outro do cólon — e também sofreu uma hemorragia cerebral. A sua família interpôs sem sucesso vários recursos para que o traficante voltasse para morrer na Colômbia.

Um perfil discreto, mas preparado para a guerra

Um telefonema em 1987 acendeu a faísca entre os dois cartéis do narcotráfico mais poderosos do século XX na Colômbia. Escobar declarou Rodríguez seu "inimigo" perante a nega desde em entregar-lhe um dos seus sócios para executá-lo.

Um ano depois, um carro carregado de dinamite explodiu num setor abastado de Medellín, onde morava a família de Escobar, causando danos auditivos à sua filha.

Revoltado, o Escobar respondeu na mesma moeda em 1990. O alvo foi uma farmácia em Cali que servia de fachada dos Rodríguez Orejuela para lavar dinheiro.

Agindo sempre com cabeça fria, Rodríguez juntou forças entre os adversários de Escobar até vê-lo morto. Em entrevista à W Radio pouco depois de ser extraditado, o narcotraficante reconheceu a sua aliança com a polícia que matou a tiro um Escobar obeso e solitário, quando tentava fugir por um telhado em Medellín.

"Nós fizemos contato com eles, começamos a informá-los, começamos a dar-lhes ajuda logística", revelou. A sua versão, contudo, foi sempre negada pelas autoridades.

Subtilmente, Gilberto e seu irmão abriram um espaço na elite económica e política do país. Ao contrário do excêntrico Escobar, que se aventurou na política e chegou ao Congresso antes de dar uma recompensa por cada agente da polícia assassinado, Rodríguez preferia o suborno.

Em 1995, foi capturado na Colômbia e ficou preso sete anos. Era muito discreto. "Eles não matavam, mas corrompiam", disse à revista Semana o general reformado Rosso Serrano, no comando da operação policial que recapturou em 2003 o maior dos Rodríguez, acusado de reincidir no negócio.

Num escândalo conhecido como "Processo 8.000", o ex-presidente Ernesto Samper (1994-1998) foi acusado de receber um apoio milionário dos irmãos à sua campanha, acusações que Samper sempre negou. O Congresso absolveu-o num polémico julgamento, que evitou a sua investigação judicial.

Antes da sua queda, os Rodríguez controlavam o América de Cali, clube de futebol com mais títulos à época, os negócios de criação de cavalos e concursos de miss.

Imagens da época da extradição mostraram grisalho e com colete à prova de balas o homem que acumulou uma fortuna de 12 mil milhões de dólares, segundo o centro de estudos InSight Crime.