Rubem Fonseca sofreu um enfarte ao início da tarde, no seu apartamento no Leblon, bairro da zona Sul do Rio de Janeiro. Apesar de ter sido imediatamente transportado para o hospital, os médicos não conseguiram reanimar o escritor, segundo o jornal O Globo.
Autor de livros como "O Caso Morel" (1973), "Feliz Ano Novo" (1976), "O Cobrador" (1979) e "A Grande Arte" (1983), Rubem Fonseca foi distinguido em 2003 com o Prémio Camões, o mais importante prémio literário da língua portuguesa, e recebeu também, por seis vezes, o Prémio Jabuti, o principal galardão da literatura, no Brasil.
"Carne crua", o seu mais recente livro de contos inéditos, foi editado em 2018.
A sua vida começou no Direito
Contudo, antes de entrar no universo da literatura, o escritor, nascido em Juiz de Fora, município no interior do estado de Minas Gerais, formou-se em Direito e construiu uma carreira de seis anos na polícia civil, como comissário.
Fonseca viria a estrear-se na literatura em 1963, com o livro de contos "Os Prisioneiros".
O escritor brasileiro venceu cinco vezes o prémio Jabuti na categoria de Contos e Crónicas, pelos livros "Lúcia McCartney" (1969), "O Buraco na Parede" (1995), "Secreções, Excreções e Desatinos" (2001), "Pequenas Criaturas" (2002) e "Amálgama" (2014).
Na categoria de Romance, o nonagenário venceu apenas uma vez, com "A Grande Arte" (1983).
Em 2015, quando foi distinguido com o Prémio Machado de Assis, a Academia considerou "Rubem Fonseca um dos mais importantes ficcionistas contemporâneos brasileiros", que "exerceu profunda influência na cena literária brasileira, inaugurando a tendência que Alfredo Bosi chama de 'brutalista'".
"Consagrou-se pela sua narrativa nervosa e ágil, ao mesmo tempo clássica e moderna, entre o realismo e o policial, revelando a violência urbana brasileira, sem perder o olhar sensível para a tragédia humana a ela subjacente, a solidão das grandes cidades ou para os matizes do erotismo. Seu estilo contido, irónico e cortante, ao mesmo tempo denota um leitor dos clássicos e um ouvido atento ao falar das ruas em seu tempo", descreveu ainda a ABL.
Conhecido também pela sua reclusão, e consequente recusa a dar entrevistas, Rubem Fonseca viveu a maior parte da sua vida no Rio de Janeiro, tornando-se numa das figuras da cidade.
O escritor era apontado pela crítica como "o maior contista brasileiro da segunda metade do século XX" e tinha um estilo único que vincava as suas histórias com crueza, erotismo e velocidade narrativa.
O portal G1 diz que o autor "renovou a literatura brasileira no século XX" e conta a história de como Rubem Fonseca, com o seu primeiro livro, chocou o primeiro editor a quem o mostrou. Segundo o próprio, o problema foram mesmo os palavrões no texto.
"Eu escrevi 30 livros. Todos cheios de palavras obscenas. Nós, escritores, não podemos discriminar as palavras. Não tem sentido um escritor dizer: Eu não posso usar isso. A não ser que você escreva um livro infantil. Toda palavra tem que ser usada", disse, citado pelo portal brasileiro.
Em 2015 recebeu o Prémio Machado de Assis, da Academias Brasileira de Letras (ABL), pelo conjunto da sua obra. Em 2012, esteve em Portugal para receber o Prémio Correntes d'Escritas, na Póvoa de Varzim, e em Lisboa, onde o município lhe entregou a Medalha de Mérito Municipal Grau Ouro. No mesmo ano, foi distinguido com o Prémio Iberoamericano de Narrativa Manuel Rojas.
Quando foi galardoado com o prémio maior das Correntes d’Escritas, confessou à plateia do Casino da Póvoa o seu amor pela língua portuguesa, poesia e por Portugal. "Amo a língua portuguesa, lindíssima, que vai durar pela eternidade", afirmou o escritor.
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