Este ano, Priscila e José Fernandes tiveram de enfrentar os desafios conhecidos por milhares de professores deslocados, mas para o casal colocado no Agrupamento de Escolas Matilde Rosa Araújo, em São Domingos de Rana, Cascais, fazer a viagem todos os dias de casa para a escola não era possível.
“Somos do Funchal”, contaram à Lusa. A única opção dos dois professores de Física e Química era arrendar casa e, num dos concelhos mais caros do país, conseguir uma habitação a preços acessíveis, disponibilizada pela Câmara Municipal de Cascais, foi um alívio.
No dia em que se mudaram oficialmente para uma das habitações disponibilizadas pela autarquia, o entusiasmo era visível, apesar do aparato que juntou mais de uma dezena de pessoas na sua nova casa para a cerimónia de entrega das chaves e assinatura do contrato de arrendamento.
“Sobretudo, traz estabilidade. Temos um local onde ficar, temos a nossa base, podemos preparar o trabalho e o dia-a-dia com segurança e tranquilidade e isso faz toda a diferença”, sublinhou José Fernandes.
A nova casa, uma moradia requalificada com três quartos e um pequeno terraço com piscina, fica a menos de dois quilómetros da escola. Para já, Priscila e José são os únicos inquilinos, mas poderão vir a partilhar casa com outros dois colegas.
O programa da Câmara de Cascais, com um investimento de 1,8 milhões de euros no âmbito de Plano de Recuperação e Resiliência, prevê a disponibilização de 105 alojamentos e hoje foram entregues as primeiras 16 chaves a professores deslocados que lecionam no concelho.
Na segunda fase, cujo prazo de candidatura está a decorrer até sexta-feira, o concurso foi alargado a docentes do ensino básico e secundário dos setores social e privado, e do ensino superior.
As rendas variam entre os 75 euros e 400 euros mensais, explicou o vice-presidente da Câmara de Cascais, Nuno Piteira Lopes, e as opções incluem apartamentos individuais, quartos em moradias partilhadas ou em instituições como as Irmãs Hospitaleiras, o Mosteiro de Santa Maria do Mar ou o Seminário Torre d’Aguilha.
Era no seminário que Priscila e José estavam a viver desde o início do ano letivo. Na nova casa, vão, cada um, pagar uma renda de 250 euros.
“O valor desta oportunidade não se encontra no mercado de arrendamento normal. Estando deslocados, temos os custos com as viagens e com a nossa casa. É uma mais-valia”, diz Priscila Fernandes, sublinhando que no mercado de arrendamento “era quase o dobro”.
Por outro lado, José Fernandes acrescenta que nas opções disponíveis por preços semelhantes raramente aceitam contrato de arrendamento.
É a primeira vez que o professor madeirense é colocado numa escola fora da ilha, enquanto, ao lado, Priscila conta que já esteve a lecionar, no ano passado, numa escola no Seixal.
Nessa altura, contou com a ajuda de familiares e colegas, “mas sempre numa situação instável”, refere.
O alojamento é uma das principais dificuldades de milhares de professores deslocados, sobretudo na região de Lisboa e Vale do Tejo, onde o custo da habitação é mais elevado.
É também nessa zona que existe maior carência de professores e no novo concurso de vinculação extraordinário, anunciado pelo Governo para fixar mais docentes nas escolas mais carenciadas, mais de metade das 2.309 vagas são para a Grande Lisboa.
Além da Câmara de Cascais, que depois dos professores vai alargar o programa também às forças de segurança e profissionais de saúde, outras autarquias da região têm medidas para apoiar os professores deslocados, como a Câmara de Oeiras, também com a disponibilização de quartos a preços acessíveis, ou a autarquia da capital, através do Apoio à Renda e do Programa Renda Acessível.
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