Em comunicado, a Junta de Freguesia de Santa Maria Maior (JFSMM) informa que Alfama terá um sistema de som único nas Festas de Lisboa e que "não estão autorizados sons autónomos por banca ou retiro". Além disso, "só será emitida música portuguesa adequada a estas festividades" no dito sistema de som, apresentando a Junta o desejo de "ter o melhor arraial da cidade de Lisboa, o mais alegre e dinâmico, mas também respeitador dos residentes do Bairro". Ainda neste sentido, a Junta faz o compromisso de "desligar o sistema de som à hora prevista para o encerramento do arraial". Poderá encontrar os horários da Festa no final do artigo.

Em declarações ao SAPO24, Ricardo Dias, assessor para as Coletividades, Desporto e Juventude e representante da JFSMM quanto à logística dos Santos Populares, explicou a origem deste sistema de som único.

"Festas de Lisboa são, como o nome indica, festas da capital de Portugal. (...) Não faria sentido dar prioridade a outros estilos musicais que não sejam música portuguesa."

"Isto surgiu da interpretação de uma necessidade que nos foi transmitida pela Comissão Organizadora das Festas Populares, de evoluir qualitativamente nesta questão do som. Recebendo a Junta de Freguesia de Santa Maria Maior esta abordagem, procurámos de imediato encontrar uma solução. Cria-se, portanto, este sistema de som, que faz com que seja tocada a mesma música em todo o Bairro, ao mesmo tempo. Como é lógico, foi um investimento por parte da junta que visou melhorar as Festas e, de certa forma, dar algum conforto às pessoas do bairro, que todos os anos se dedicam à montagem dos retiros e à venda das sardinhas, mas também aos próprios moradores, que usufruem assim muito melhor desta época do ano, tendo em conta que as festas se passam nas suas ruas."

Quanto à questão da música portuguesa, "a escolha da temática da música foi feita por uma Comissão onde estiveram moradores do bairro e representantes da própria Comissão Organizadora e da Junta de Freguesia. É importante ressaltar que as Festas de Lisboa são, como o nome indica, festas da capital de Portugal. Automaticamente, será uma festa com raízes portuguesas, que respeita a autenticidade de Lisboa e que espelha aquilo que é a tradição. Logicamente não faria sentido dar prioridade a outros estilos musicais que não sejam música portuguesa. E, quando falamos neste tipo de música, falamos no fado, na música popular, naquilo que se chama música pimba, música ligeira. Há aqui também uma panóplia, claro. Não é nada assim tão restrito", refere Ricardo Dias.

Mas a música em Alfama não fica apenas por aqui. "Em dois largos do Bairro, nomeadamente no Largo de Salvador, numa zona mais a norte do Bairro de Alfama, e no Largo de São Miguel, mais no centro do Bairro, existem, nos pontos altos de cada semana, espaços para música ao vivo. Ou seja, há uma banda, também de música popular, que toca nestas duas zonas. Nestes espaços, o sistema de som estará desligado, já que existe música ao vivo. Já é uma tradição nestas zonas. Aqui existe, claro, um pouco mais de liberdade, uma vez que a banda tem o seu repertório. Podem tocar o natural. Não é objetivo da Junta de Freguesia fazer qualquer condicionante à tipologia da música, a banda pode tocar o que já tocava há cinco anos", clarifica o assessor.

"Esta medida não é mais do que a resposta que pretende dar mais qualidade aos moradores e a quem visita Alfama. Antigamente, qualquer retiro tinha liberdade para colocar o tipo de música que queria. Estamos a falar, às vezes, de metros quadrados reduzidos. Nem sequer era o ambiente sonoro saudável, porque era ter uma música a tocar aqui e outra a tocar uns metros depois, completamente diferente. Existem regras de segurança e de bem-estar para os moradores  - e para o Bairro em geral -  e horários que devem ser cumpridos. O controlo não é só do ponto de vista da música e das horas, mas para dar alguma saúde sonora ao próprio Bairro. Ter várias músicas a colidir no mesmo espaço, em que nem é percetível o que se está a dizer, não é saudável".

Quanto às reações, Ricardo Dias afirma que "todos no Bairro estão satisfeitos". "Têm sido muito positivas. A Junta de Freguesia acompanha o desenrolar das festas no terreno e o feedback tem sido extraordinariamente positivo, porque as pessoas sentem que de facto existe aqui uma equidade e um equilíbrio que era muito importante. Demos um salto qualitativo e o senhor presidente da Junta, o Dr. Miguel Coelho, fez uma forte aposta neste sistema de som, que demorou algum tempo a ser montado. Corremos as ruas uma a uma com os técnicos, para perceber onde era necessário montar o som. Foi um mês de testes, para ficar tudo bem aprumado".

A reação do Bloco de Esquerda

O Bloco de Esquerda já reagiu ao sucedido e a JFSMM rejeita as acusações e “ilegalidade e censura” na decisão de implementar um sistema de som comum para todo o arraial de Alfama.

“Toda a gente, inclusive as pessoas dos retiros, estão muito satisfeitas com esta solução”, disse à Lusa o presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, Miguel Coelho (PS), explicando que a ideia de “implementar uma uniformidade no som” surgiu como resposta a um pedido da população local e da comissão de festas do bairro de Alfama.

Para o BE de Santa Maria Maior, a instalação de um sistema de som único é “uma medida de censura aos gostos e escolhas musicais da população”, “uma atitude contra a liberdade dos retiros a criar o seu ambiente” e “uma atitude xenófoba, que não reconhece a diversidade da população residente na freguesia”.

“Consideramos que a proibição de sons autónomos por banca ou retiro é ilegal, pelo que rejeitamos estas atitudes e decisões autoritárias do presidente da Junta, Miguel Coelho, a quem apelamos que retire este sistema, e apelamos à população que não permita que um executivo decida o que é próprio ser decidido por cada retiro!”, afirmou o BE de Santa Maria Maior, em comunicado.

Em declarações à agência Lusa, o autarca Miguel Coelho garantiu que “até agora não há nenhuma reclamação de um retiro dizendo que queria ter liberdade para passar a sua própria música”.

Recusando as acusações do BE, o presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior declarou que a medida do executivo visa resolver o “caos” que se tem verificado em anos anteriores no arraial de Alfama, devido à existência de sons autónomos por retiro, uma vez que “a distância dos retiros é, nalguns casos, de cinco para cinco metros ou de dez para dez metros”.

“Podia estar a ouvir uma marcha popular num retiro e na barraca ao lado podia estar a ouvir uma valsa ou uma lambada ou uma música de rock e tudo isto em elevados decibéis”, descreveu o autarca.

De acordo com Miguel Coelho, a fiscalização noturna nos dias dos arraiais é muito difícil, pelo que os retiros nunca respeitavam os horários que estavam licenciados.

“Aquilo que aconteceu é que, desta vez, as pessoas, sobretudo os residentes, mas também alguns dos promotores do arraial vieram pedir para a Junta interferir nisto e quando pediram para a Junta interferir nisto foi para que a Junta fosse capaz de implementar uma uniformidade no som e nos horários”, indicou o presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, referindo que foi ainda sugerido que “a música que passasse fosse música portuguesa”.

Segundo o autarca, “nestes primeiros dias, está toda a gente muito satisfeita” com a medida do executivo de Santa Maria Maior.

“As pessoas têm todo o interesse que [o arraial de Alfama] decorra o mais alegremente possível, mas que também respeite o direito ao descanso de quem lá mora e de quem tem que trabalhar no dia seguinte, é isso que estamos a fazer”, reforçou Miguel Coelho.

Arraiais em Alfama:

3, 9, 10, 14, 17 e 24 junho
20h00 - 02h00

13 e 15 de junho
20h00 - 00h00

12 de junho
20h00 - 04h00