Em mais uma sessão do julgamento de 17 arguidos acusados de pertencerem a uma alegada rede criminosa de assaltos violentos a residências na Área Metropolitana de Lisboa, que decorre no Tribunal de Cascais, o arguido explicou que conheceu Paulo Pereira Cristóvão quando este era vice-presidente do Sporting e ele líder da claque Juventude Leonina.
Nuno Vieira Mendes afirmou que foi "usado” por Pereira Cristóvão e que só aderiu ao esquema criminoso para “fazer um favor a um amigo”, em alusão ao antigo vice-presidente do Sporting, reconhecendo, contudo, “com uma contrapartida financeira”.
“Quero assumir aqui as culpas, estou arrependido, quero pedir desculpas às vítimas e estou disposto a compensar as vítimas. Longe de mim pensar que aquilo eram roubos, para mim eram cobranças. Nunca fui a casa de ninguém nem apontei armas. A pior coisa que me aconteceu na vida foi ter conhecido este senhor”, disse 'Mustafá', apontando na direção de Pereira Cristóvão.
O arguido contou ao coletivo de juízes que foi Pereira Cristóvão quem lhe passou as informações sobre as vítimas e as residências a assaltar: uma em Cascais, em fevereiro, de 2014, e outa em abril desse ano, na Avenida do Brasil, em Lisboa.
Segundo 'Mustafá', Pereira Cristóvão precisava de fazer uma “cobrança” a alguém que morava em Cascais por ter uma dívida de meio milhão de euros, devido a um negócio da venda de uns terrenos no Brasil, perguntando-lhe se tinha “umas pessoas para fazer essa cobrança”, pois a vítima tinha, nessa habitação, “um milhão” de euros, em dois cofres.
Nuno Vieira Mendes contou que falou depois com o arguido Paulo Santos, seu irmão e com a alcunha de 'Bábá', que, por sua vez, arranjou os “operacionais” que se deslocaram à casa, entre os quais dois agentes da PSP, um deles responsável por forjar os mandados de busca domiciliária.
O arguido referiu que desse assalto conseguiram 80.000 euros. Pereira Cristóvão recebeu metade e ele outra metade, sendo que, desses 40.000 euros, ficou com 10.000 euros e deu o restante ao irmão para ele dividir pelos restantes arguidos envolvidos.
Quanto a este assalto à residência em Cascais, realizado em 27 de fevereiro de 2014, o antigo inspetor da PJ apresentou ao tribunal, em 23 de março deste ano, uma versão diferente, dizendo que foi o arguido Celso Augusto quem lhe disse que pretendia fazer uma “cobrança” de uma comissão de 100.000 euros a um empresário do ramo imobiliário, com negócios no Brasil, relativos a 10% de um negócio de um milhão de euros.
'Mustafá' frisou hoje que “nunca conheceu” o arguido Celso Augusto, a não ser no dia em que Paulo Pereira Cristóvão o levou à casa deste para ver “uma folha” que confirmaria a alegada dívida de meio milhão de euros.
Em relação ao assalto à residência na Avenida do Brasil, em Lisboa, em abril de 2014, 'Mustafá' explicou que o 'modus operandi' foi o mesmo do assalto à residência a Cascais.
Em julgamento, o antigo inspetor da PJ afirmou, na mesma sessão de 23 de março, que, nessa habitação, moraria alguém responsável por alegadas burlas ao banco BPN, que estaria em dívida com o arguido Celso Augusto e guardaria dinheiro “debaixo dos tacos”.
Na sessão de hoje, 'Mustafá' manteve a mesma versão apresentada no assalto à residência de Cascais, dizendo que foi o antigo inspetor da PJ quem passou todas as informações sobre o assalto.
“Foi o senhor Paulo Pereira Cristóvão que explicou tudo: que havia dois cofres, um no armário e outro num cofre no chão”, sublinhou o arguido, desconhecendo como Pereira Cristóvão obteve essas informações.
Neste assalto, os arguidos “operacionais” não encontraram nenhum dinheiro debaixo dos tacos da residência, o que levou a que Nuno Mendes se afastasse de Pereira Cristóvão.
“Paulo Pereira Cristóvão foi ter comigo nessa noite [do assalto] e disse-lhe: para mim acabou. Isto é uma palhaçada. Eu não sou mentiroso compulsivo. Mentiroso compulsivo é este senhor aqui. Afastei-me completamente, pois isto não é para mim”, declarou Nuno Vieira Mendes, contado que, nesse encontro, Pereira Cristóvão ainda tentou convencê-lo a ir ao Algarve assaltar uma casa, na qual estariam joias.
Já no fim do seu depoimento, 'Mustafá', que se encontra em prisão preventiva ao abrigo do processo do ataque à Academia do Sporting, em Alcochete, relatou que o antigo inspetor da PJ, em março de 2015, foi à festa do seu filho e pediu-lhe para se manter calado, pois outros arguidos no processo, detidos oito meses antes, já os teriam denunciado.
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