Segundo escreve o jornal Público, 167 mil genomas do coronavírus SARS-CoV-2 já foram sequenciados e divulgados em todo o mundo. No que diz respeito à taxa de mutação deste vírus, verifica-se que esta é, até ao momento, de cerca de duas mutações por mês desde o primeiro genoma sequenciado — um número baixo quando comparado com a maior parte dos vírus desta tipologia.

Todavia, acrescenta o jornal, este factor não faz com que o vírus "seja mais ou menos virulento nem mais ou menos transmissível". Neste sentido, tem sido estudada uma mutação, a D614G. Segundo a revista Nature, foram revelados resultados num estudo em hamsters que mostra que essa mutação pode aumentar a transmissão viral, mas não se verificou que aumentava a virulência.

Na prática, a mutação em causa substitui um aminoácido por outro na proteína da espícula, a responsável pelo vírus entrar nas células. Nas experiências, verificou-se que o vírus com essa mutação consegue aumentar a replicação viral no tracto respiratório superior dos hamsters infetados, o que faz com que a transmissão da covid-19 aumente. Por outro lado, o mesmo não se verificou nos pulmões, dando a entender que a mutação não contribui para a virulência. Contudo, são necessários mais estudos para confirmar os resultados.

Até agora foram já sequenciados cerca de 1.800 genomas do vírus em Portugal, a maior parte entre março e o final de abril, estando a D614G presente em 90% deles. Mas esta não é a única mutação a destacar: tem sido ainda verificada a D839Y, que "teve um grande impacto [a nível da frequência] no nosso país", de acordco com João Paulo Gomes, bioinformático e responsável do Núcleo de Bioinformática do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA).

Ao Público, Lucy van Dorp, geneticista da University College de Londres que tem estudado as mutações no vírus, refere que a "investigação sugere que nenhuma mutação tem um papel marcante na mudança da transmissão ou comportamento do SARS-CoV-2", explicando ainda que uma deleção [rearranjo estrutural dos cromossomas] numa proteína acessória (ORF8) pode fazer com que a virulência — a capacidade de o vírus causar danos ao hospedeiro — seja mais reduzida.

Segundo a investigadora, ainda não se chegou a um consenso no que diz respeito a esta mutação verificada. "Tem-se sugerido que tem um papel no aumento da transmissibilidade através a modulação da carga viral, mas, até agora, não há provas de que prejudique o doente".

A semana passada, cientistas espanhóis e suíços divulgaram um estudo em que era referido que o coronavírus SARS-CoV-2, causador da pandemia de covid-19, tem centenas de mutações, mas uma das mais presentes atualmente na segunda vaga que vive a Europa ocorreu primeiro em Espanha.

Análises realizadas pela Universidade de Basileia, a Escola Politécnica Federal de Zurique e o consórcio espanhol SeqCovid-Spain, liderado pelo Conselho Superior de Investigação Científica, mostram que a nova variante se espalhou pela Europa e outras regiões nos últimos meses a partir de Espanha.

O abrandamento das restrições de viagem no verão e o facto de Espanha ser um importante destino turístico facilitaram a expansão desta variante do genoma do vírus, segundo um comunicado da Universidade de Basileia.

“Só na Europa, há centenas de variantes do novo coronavírus a circular, com mutações nos genomas, mas muito poucas se disseminaram com tanto êxito e se revelaram tão persistentes como esta”, de acordo com a informação divulgada pelo centro.

Os investigadores afirmaram que o surgimento em Espanha, durante os meses estivais, pode estar ligado a um “evento superprogador ligado aos trabalhadores agrícolas no noroeste espanhol” e que se expandiu por toda a Espanha e uma dezena de países europeus.

A professora da Universidade de Basileia Emma Hodcroft, autora principal do estudo, defendeu que nada indica que esta variante do coronavírus seja mais contagiosa do que as outras, mas que a sua transmissão poderá dever-se a um abrandamento das medidas preventivas no verão.

A pandemia de covid-19 já provocou quase 1,2 milhões de mortos e mais de 46 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

Em Portugal, morreram 2.544 pessoas dos 144.341 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.