Cerca de 200 pessoas marcaram presença na homenagem às vítimas do incêndio de Pedrógão Grande, que se realizou no quilómetro onde a maioria das pessoas morreram, nos seus carros, com chamas dos dois lados da estrada.
As pessoas vestiram-se de preto ou com uma camisola branca com o número 64 (o número das vítimas), segurando velas, flores brancas e pequenos pinheiros mansos, dados pelo movimento Fénix, de Proença-a-Nova.
O silêncio acompanhou todas as pausas da cerimónia que contou com o soar do gongo, tocado 77 vezes por várias pessoas, inclusive o comandante dos bombeiros de Castanheira de Pera e da presidente da Associação das Vítimas do Incêndio de Pedrógão Grande, Nádia Piazza.
Segundo Joana Prado, do movimento Fénix, 77 significa "o infinito" e procura representar "todas as vidas perdidas", todos os animais queimados e toda a destruição deixada na natureza.
As pessoas, emocionadas, foram ouvindo o soar do gongo em silêncio, tendo-se seguido três músicas tocadas em gaita de foles, uma delas "Hallelujah", de Leonard Cohen.
No final, um dos presentes sugeriu o Pai Nosso, que foi rezado, seguindo-se uma salva de palmas.
Para muitos, continua a ser difícil passar pela estrada nacional 236-1.
Para Maria Cravo, que foi uma das últimas pessoas a escapar da estrada - já com chamas dos dois lados e um pneu rebentado -, foi impossível conter as lágrimas durante a homenagem.
"Ainda não tinha vindo aqui, pensei em vir sozinha, mas não consegui. Hoje, foi a primeira vez que voltei a passar pela estrada. Tinha que ser", contou à Lusa, de voz embargada, considerando que era sua obrigação passar por ali e prestar homenagem aos que partiram.
Voltar à estrada traz-lhe à memória as imagens daquele dia, em que viu pessoas dentro de um carro, sem hipótese de fuga, explica.
No entanto, apesar da dificuldade de estar naquele troço, "ao mesmo tempo, há alguma paz aqui", contou.
O processo de recuperação, frisou, "é longo" e as notícias de outros incêndios - viu o fogo da sua varanda no domingo - voltam a tornar o sono leve, frisou.
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