Uma mulher publicou um vídeo a passear num forte histórico. São seis segundos. Ela caminha por uma pequena rampa, por entre muros. Perto do fim, volta-se para trás.
No fundo, é mais ou menos isto que se vê no vídeo. Uma jovem que caminha, num dia de sol, no forte de Ushayqir, na Arábia Saudita. Usa óculos de sol, ténis brancos, uma saia curta com padrão florido e uma camisola preta, sem mangas, que mostra o umbigo. O cabelo vai solto e destapado.
Para os ocidentais, esta pode ser uma combinação simples para um dia de verão. Todavia, na Arábia Saudita, as mulheres devem usar vestes largas e compridas, conhecidas por abayas (não confundir com burqa). Para além disso, se forem muçulmanas, devem usar também um lenço na cabeça. Há algumas exceções para figuras de Estado estrangeiras, como, por exemplo Michelle Obama ou Melania Trump, que não cobriram a cabeça nas visitas oficiais àquele país.
A mulher é uma modelo chamada “Khulood” e o vídeo, partilhado na rede social Snapchat, neste fim de semana, espoletou aceso debate nas redes sociais, com pessoas a pedir a prisão da jovem por ir contra o código de vestuário daquele país muçulmano. Outros, porém, saúdam a coragem de ir contra a norma do país conservador.
O vídeo foi feito na província de onde são a maioria das tribos e famílias mais conservadoras da Arábia Saudita e, conta o britânico Guardian, parece ser um “protesto deliberado contra os códigos de vestuário”, surgindo depois de uma série de vídeos que protestam contra a proibição de as mulheres poderem conduzir.
Entretanto, a polícia religiosa da Arábia Saudita anunciou já estar a investigar o vídeo. O Comité para a Promoção da Virtude e Prevenção do Vício, assim se chama a autoridade, terá pedido a outras agências uma investigação à mulher “indecentemente” vestida, diz o site de notícias saudita Sabq, citado pelo Guardian.
Nas redes sociais, a discussão prossegue. Ibrahim a-Munayif, um escritor saudita com mais de 41 mil seguidores no Twitter, diz que “tal como pedimos às pessoas para respeitarem as leis dos países que visitam, as pessoas têm também de respeitar as leis deste país”.
Já Rothna Begum, investigadora dos direitos das mulheres no Médio Oriente, disse, num e-mail enviado ao Guardian, que “o código de vestuário é uma segregação apertada na Arábia Saudita que afeta as mulheres do reino [da Arábia Saudita], incluindo no seu direito ao emprego”, já que as empresas são multadas se os códigos forem quebrados, levando alguns empregadores a ser mais cautelosas na contratação de mulheres.
“Estas restrições”, pode ler-se no texto enviado ao jornal britânico, “fazem parte de um sistema de guarda masculina em que, do nascimento à morte, a mulher tem de ter um guardião masculino - um pai, marido, irmão ou mesmo um filho - que tem o poder de tomar por ela uma série de decisões fundamentais.”
Alguns dos que defendem a jovem recordam Melania Trump, que esteve recentemente no país, bem como a filha do presidente norte-americano, que dispensaram o uso de abayas ou de lenços na visita de maio.
“Se ela fosse uma estrangeira” escreve uma mulher no Twitter, “estariam a cantar sobre a beleza da sua cintura e o encanto dos seus olhos… Mas como é saudita, estão a pedir que seja presa”.
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