O evento, realizado na TV Bandeirantes, em São Paulo, com a participação de oito dos treze concorrentes ao Palácio do Planalto, que vão disputar a preferência do eleitorado a 7 de outubro, estendeu-se até à uma da madrugada desta sexta-feira, hora brasileira.

Participaram no debate o capitão do Exército na reserva Jair Bolsonaro (PSL) — segundo nas intenções de voto em que Lula aparece como favorito e em primeiro — Marina Silva (Rede), Geraldo Alckmin (PSDB), Ciro Gomes (PDT), Henrique Meirelles (MDB), Guilherme Boulos (PSOL), Álvaro Dias (Podemos) e Cabo Daciolo (Patriota).

Sem grandes surpresas, a corrupção, violência e as dificuldades económicas que assolam o Brasil dominaram o debate, que foi menos polémico do que o esperado, apesar de alguns atritos.

Um dos principais focos da noite era o desempenho do deputado de extrema direita, Jair Bolsonaro, incluindo a sua relação com os possíveis adversários para uma eventual segunda volta, em 28 de outubro: a ambientalista Marina Silva e o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin.

O ex-capitão do Exército mostrou-se mais moderado do que costuma ser nas aparições nas redes sociais, mas voltou a apresentar as suas propostas mais arrojadas, que passam por legalizar o porte de armas, pela "castração química voluntária" para violadores e a criação de mais "escolas militares".

Para Bolsonaro, que se apresentou como alternativa à velha política corrupta, a violência no Brasil, que bateu recordes em 2017 com 64 mil homicídios, é culpa da "equivocada política de direitos humanos".

"Você é farinha do mesmo saco (...). Como se sente em ter mais casas do que projetos (aprovados no Congresso)?!", alfinetou o candidato de esquerda Guilherme Boulos, o único a citar a ausência de Lula no debate.

Por seu turno, Geraldo Alckmin apresentou-se como o homem sério e experiente que o país precisa "para que a economia cresça e cresça com força", alavancado pelas reformas reclamadas pelo mercado.

O candidato do PSDB procurou distanciar-se do governo de Michel Temer, que promoveu várias destas reformas desde que assumiu o poder, em 2016, após o 'impeachment' de Dilma Rousseff.

"Os que criaram o problema não vão resolvê-lo", disparou a evangélica Marina Silva, que se manteve sóbria e contundente na defesa dos menos favorecidos e advogou pelo retorno  da "credibilidade" do Brasil.

O discreto "debate" paralelo do PT

Com a participação discreta de Ciro Gomes e a 'revelação' extravagante do deputado e pastor evangélico Cabo Daciolo, a ausência de Lula no debate da TV Bandeirantes passou quase despercebida. Lula insistia em participar neste primeiro encontro por videoconferência a partir da sua cela em Curitiba, onde cumpre uma pena de 12 anos e um mês de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, mas a justiça brasileira negou-lhe esse pedido esta quinta-feira.

Decisão que "viola o direito do povo brasileiro e também dos outros candidatos de discutir as propostas da minha candidatura e até de me criticarem olhando na minha frente, e eu tendo o direito de responder. O nome disso é censura", disse Lula numa carta enviada à emissora e publicada nas redes sociais.

À mesma hora da transmissão na Bandeirantes, o Partido dos Trabalhadores organizou um debate paralelo com Fernando Haddad, ministro da educação nos mandatos do ex-presidente (2005-2010), transmitido pelas redes sociais.

Com uma audiência de pouco mais de 7.000 pessoas, o debate reuniu Haddad, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e Manuela D'Ávila (PCdoB), que será vice de Haddad, caso venha a substituir Lula — cuja candidatura muito provavelmente será impugnada segundo a Lei da Ficha Limpa.

O PT vai inscrever formalmente a candidatura de Lula a 15 de agosto, último dia do prazo legal, e planeia reunir milhares de simpatizantes em Brasília neste dia para dar o seu apoio ao líder histórico do partido.

Nas eleições de outubro também serão eleitos os 27 governadores, 513 deputados e dois terços do Senado, que tem um total de 81 assentos.

Os debates, juntamente com o tempo de propaganda gratuita de rádio e televisão a partir de 31 de agosto, e os recursos eleitorais que são distribuídos de acordo com o tamanho dos partidos e coligações, são chave para o desempenho dos candidatos.


Texto de Johannes Myburgh/AFP