Em Braga, na Paróquia de São Jerónimo de Real, continuam-se as iniciativas para reabilitar o Convento de São Francisco.

Nesse sentido, os Amigos do Convento — um projeto cívico de cariz cultural — dão seguimento ao trabalho começado com “Pintar Francisco”, iniciativa que contou com 5 mil mecenas para adquirir uma obra de arte do santo que dá nome ao local. Agora, o objetivo é “Na pedra lembrar Diogo”.

Mas este Diogo não é um qualquer. “Dom Diogo de Sousa foi o arcebispo que, em 1528, mandou edificar o Convento de São Francisco de Real tendo em vista lá albergar frades da Ordem de São Francisco da Congregação da Piedade, obra que a par de tantas outras constitui uma indelével marca do espírito empreendedor do prelado, por muito considerados o refundador da Cidade dos Arcebispos”, explica ao SAPO24 Pedro Campos, fundador dos Amigos do Convento.

“A iniciativa ‘Na pedra lembrar Diogo’ acaba por ser uma perene homenagem ao homem que há 500 anos criou a Paróquia de São Jerónimo de Real e meia dúzia de anos depois nela mandou erigir o Convento”, acrescenta.

Assim, este projeto é mais um passo na “obra de reabilitação do edifício conventual”, que está “neste momento em curso”, a par do “plano de ‘Conservação, Valorização e Promoção do Convento de São Francisco de Real’, que em boa hora o Município de Braga, a Universidade do Minho, a Direção Regional de Cultura do Norte e a Paróquia de Real protocolaram”.

Mas como é que se grava um homem na pedra? A proposta dos Amigos do Convento explica: basta “lavrar a cinzel as armas da fé”, ou seja, esculpir o brasão do Arcebispo, que, além da vertente religiosa, aparece fortemente ligado ao “humanismo renascentista”.

“A obra vai ser levada a cabo por Mário Martins, de 70 anos, artesão e escultor que nasceu e vive na freguesia de Marinhas, Esposende. Será, portanto, pela mão do mesmo artista que no chão da Igreja de São de Francisco de Real ficou gravada a palavra ‘continua-me’, no âmbito da nossa anterior iniciativa ‘Pintar Francisco’”, aponta o fundador dos Amigos do Convento.

“Falar de Mário Martins é falar de um homem que prefere escutar do que falar e de uma desconcertante sensibilidade e amabilidade. De alguém que começou a fazer os primeiros trabalhos em pedra — um material que sempre o fascinou — aos 13 anos e que dúvidas não tem quando diz que tudo lhe sai naturalmente, como que tivesse vivido outra vida”, evidencia.

Ao aproveitar o dom de um artesão, os Amigos do Convento querem também trazer o passado ao presente. “Estamos em crer que esculpir como há 500 anos se fazia aporta à obra um inegável valor simbólico, patrimonial e cultural, que a atual avançada maquinaria e processos não são capazes de fazer”, afirma Pedro Campos.

Para o fundador do grupo, “se a opção fosse outra que não a manual cinzelação”, até se poderia “ganhar tempo e milimétrica perfeição, mas perder-se-ia aquilo que muitas vezes não é palpável e que não podemos deixar apagar da memória coletiva: rasgos de ancestralidade, que importam dignificar”.

No futuro, na pedra, vão então ficar gravadas as armas do arcebispo, onde estão “representadas as quinas de Portugal, as quais aludem à ligação da família dos Sousas à Casa Real - ainda que ilegítima, de descendência direta -, e ainda quadernas de meias luas que formam cruzes, os símbolos originais da família”. O brasão que se pode ver “numa das paredes exteriores da Sé Catedral de Braga” vai servir de modelo para esta obra.

Pedro Campos garante ainda que “o trabalho de cinzelação não implicará qualquer custo para as entidades que institucionalmente apoiam a iniciativa”, que conta maioritariamente com a “amabilidade do artesão e escultor Mário Martins” e que será doada “por intermédio dos Amigos do Convento com o objetivo de figurar no Convento de São Francisco de Real”.

Antes disso, tenciona-se que a obra seja “exposta no Museu Dom Diogo de Sousa, na cidade de Braga”.

“O apoio que nos concederam diversas entidades, desde logo o Senhor Presidente da República — através da concessão do respetivo Alto Patrocínio — e o Ministério da Cultura — via Direção Regional de Cultura do Norte —, reveste-se, essencialmente, de um carácter simbólico e de chancela de que aquilo que estamos a fazer importa e é culturalmente significativo”, nota o fundador do projeto.

Desta forma, refere, a “credibilização e visibilidade que os apoios em apreço aportam à iniciativa” acabam por funcionar “como fortes estímulos” para que os Amigos do Convento continuem “a trabalhar em prol da preservação e enaltecimento do património cultural” e da “mais profunda memória coletiva”.

créditos: Amigos do Convento