O presidente da Câmara Municipal do Porto apresentou, esta quarta-feira, duas alternativas aos músicos e artistas que alugam espaços no Centro Comercial Stop (CCStop) para ensaiar e produzir música.

A primeira é no Silo Auto, um parque de estacionamento, na zona da Trindade. A segunda, na Escola Pires de Lima, no Bonfim, que encerrou recentemente e cujo edifício passou para a gestão do município ao abrigo do programa de descentralização que está em andamento.

Aos jornalistas, Rui Moreira afirmou que os “artistas ficaram muito satisfeitos com a solução Pires de Lima, que tem uma vantagem, é a 200 metros do Stop. É a solução mais próxima. Tudo o que é desenraizar um ecossistema tem sempre consequências. A proximidade da escola Pires de Lima acho que lhes interessou muito”, disse o autarca do Porto.

Mas Rui Guerra, da Associação Músicos do Stop, foi mais cauteloso ao afirmar ao SAPO24 que primeiro “vão ver o espaço” proposto pela Câmara e “avaliar a situação” até porque, sabe, que o espaço da antiga escola “está bastante degradado”.

“A escola tem estado ao abandono e tem chovido lá dentro. Vai precisar de muitas obras”, antevê Rui Guerra, que espera agora visitar a antiga escola Pires de Lima, em breve.

Em meados de 2008, o CCStop converteu-se em espaço cultural e diversas frações dos seus pisos foram até hoje utilizadas como salas de ensaio ou estúdios de vários artistas.

Ao longo dos anos, foi-se criando um ambiente único de produção de música, tornando o Stop um local místico para a música portuense.

“Muita coisa vai-se perder. Voltar ao Stop é uma delas. Não há volta a dar. A única forma de reabrir é legalizar todo o edíficio”, disse Guerra. "Não deverá acontecer", rematou.

O prédio não está aprovado pelos bombeiros, pela proteção civil, para as questões de segurança. “Não tem condições de habitabilidade”, reforça o dirigente da Associação que também foi criada pelo vocalista dos Ornatos Violeta, Manel Cruz.

No estúdio de Rui Guerra passaram bandas como os “Perfume”, os “Trabalhadores do Comércio”, Diana Basto ou Noa, artistas que têm agora de “escolher outros sítios para ensaiar”, o mais rapidamente possível.

“Foi tudo mal feito", adianta. Sabia-se que o Stop podia fechar a qualquer momento. Pelo menos há dez anos que se fala nisso, devido à falta de condições. Mas Rui Guerra avança que devia já “existir uma alternativa para receber as bandas e os equipamentos”.

“Eu sabia que ia acontecer só não esperava que fosse tão cedo e esperava que íamos ser avisados para podermos estar preparados. Pensava que já iria haver esse espaço para fazermos a mudança e continuar a trabalhar”, conta Rui Guerra e adianta que a Escola vai precisar de muitas obras e isso vai levar tempo.

No entanto, segundo Rui Moreira, “transformar antigas salas de aulas em salas para músicos é uma coisa relativamente fácil”, afirmou na conferência de imprensa. O presidente não estimou quanto tempo vai demorar a obra, mas garantiu os custos de adaptação do espaço que vão ser por conta da autarquia.

No entanto, para Rui Guerra o timming não terá sido o melhor já que se está em pleno verão e “muita gente vai ficar aflita, sem poder trabalhar e sem saber onde guardar os equipamentos ”, explicou o produtor.

“Fizemos um alto investimento no estúdio, insonorização, equipamentos. Tenho dúvidas que a qualidade no novo espaço se mantenha. É todo um investimento feito que vai perder-se”, lamenta Rui Guerra, lembrando a mística que se criou no centro que nunca mais voltará a ter-se.

“O que nós queremos é ficar no Stop, mas não é possível. Dificilmente será reversivel”, conclui o responsável pela Associação de Músicos do Stop e que descartou, para já, o protesto que estava previsto para segunda-feira em frente ao município.