No discurso, que se tornou um dos temas mais debatidos na rede social Weibo, o equivalente ao Twitter na China, Putin acusou o Ocidente de querer impor à Rússia uma “derrota estratégica” na Ucrânia e acabar com o país “de uma vez por todas”. O líder russo disse que está determinado a continuar a ofensiva na Ucrânia, iniciada há um ano, para “eliminar as ameaças do regime neonazi existente na Ucrânia desde o golpe de 2014”.
Uma partilha do Global Times, jornal oficial do Partido Comunista Chinês, com as declarações de Putin a acusar o Ocidente de ter começado a guerra, registou mais de 400 comentários, com alguns a apoiarem Putin, outros a quererem apenas que a guerra acabe, sem envolvimento da China, e ainda os que ironizam acerca das tentativas do líder russo de pintar um cenário triunfal.
“A Rússia está a chorar sem lágrimas”, escreveu um internauta. “Putin está a abraçar as suas armas nucleares porque está a perder a guerra”, observou outro.
No início da invasão, várias análises apontaram para uma posição favorável a Moscovo entre parte da opinião pública chinesa, que considerava a invasão da Ucrânia como uma ação legítima, face à rivalidade comum contra a “hegemonia ocidental”, encabeçada pelos Estados Unidos, e o paralelismo com a ilha de Taiwan, que Pequim considera uma província sua.
Algumas opiniões parecem ter mudado ao longo do conflito, com vários chineses a enaltecer agora o heroísmo das tropas ucranianas e a expressar apoio a uma vitória de Kiev. No entanto, o rancor aos EUA continua a guiar parte da opinião pública do país.
“É engraçado: quando a guerra começou, muitas pessoas apoiavam a Rússia, mas posso ver que, entretanto, mudaram de direção”, observou um internauta. “O apoio ou oposição dependem de quem é o nosso inimigo. Os Estados Unidos são agora o nosso rival. Então, vamos apoiar a Rússia ou a Ucrânia?”, questionou. “A resposta é evidente”.
“A hegemonia dos EUA e os seus atos de pilhagem são a origem de todo o caos no mundo”, atirou outro internauta. Este comentário surge frequentemente nas redes sociais do país e reflete a retórica oficial do regime chinês.
Numa coluna sobre o discurso de Putin, o proeminente comentador chinês Hu Xijin lembrou que o resultado da guerra é “incerto” e que é “importante” que a China permaneça de fora do conflito.
A China deve “continuar a defender a retidão e a justiça” e “focar-se nos seus próprios interesses de desenvolvimento”, afirmou Hu.
De acordo com uma sondagem publicada logo após o início da guerra pelo Carter Center, organização sem fins lucrativos, 75% dos entrevistados chineses concordavam que apoiar a Rússia é do interesse nacional da China. Cerca de 60% dos entrevistados esperavam, no entanto, que a China tenha um papel na mediação do fim do conflito.
Pequim recusou condenar a Rússia pela invasão da Ucrânia e criticou a imposição de sanções contra Moscovo. A China considera a parceria com o país vizinho fundamental para contrapor a ordem democrática liberal, liderada pelos Estados Unidos.
Em causa está também o paralelismo entre o conflito na Ucrânia e a questão de Taiwan, que Pequim considera ser uma “província rebelde” que deve ser reunificada.
Washington é o principal aliado e fornecedor de armas de Taipé. As visitas de políticos norte-americanos à ilha tornaram-se frequentes nos últimos dois anos, levando o Exército chinês a lançar exercícios militares em larga escala em torno do território.
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