Tudo começou com uma brincadeira, há cerca de seis meses. Miguel Somsen, head copywriter da Media Capital e também conhecido pela sua associação ao projeto Gin Lovers, teve conhecimento de uma página internacional que se dedicava identificar títulos criados nos meios online especificamente para conseguir o click do leitor. “Enviei-lhes uma mensagem a perguntar se não tinham interesse em ter uma página em Portugal. Responderam que não”, conta. Diariamente continuava a ver informação a ser “jorrada” em que o título muitas vezes nada tinha a ver com a notícia e essa realidade tornou-se ainda mais evidente com o envio massivo de notificações por parte dos meios de comunicação social: “são muito úteis, mas muitas são não-notícias”, afirma o autor da página Anti Clickbait Portugal, que é a razão pela qual clicou no artigo que está agora a ler (e que esperamos não o defraude).

Face a este contexto, Miguel Somsen decidiu publicar massivamente na sua página pessoal de Facebook exemplos de títulos que não correspondiam à notícia ou que visavam apenas conquistar o click do leitor. E durante três dias publicou e publicou diferentes exemplos. A página tornou-se rapidamente viral - termo usado sempre que algum conteúdo é propagado de forma rápida na Internet - e o seu autor simplesmente “deixou de ter vida".

Decidiu então criar uma página dedicada ao tema onde passou a publicar exemplos de títulos enganadores. Chamou-lhe Anti Clickbait Portugal e atualmente já conta com mais de cinco mil fãs em menos de um mês. Todos os dias são colocados em média cinco posts e está uma pessoa dedicada a fazer a gestão da página. No entanto, o seu criador quer manter o projeto “o mais amador possível”.

Os Truques da Imprensa Portuguesa foram uma inspiração?, perguntámos. “Nós somos os Truques em cor-de-rosa”, brinca o criador da Anti Clickbait Portugal. A polémica página que se dedica a identificar situações em que a imprensa apresenta notícias com contradições foi, no entanto, um apoio no lançamento da Anti Clickbait Portugal. E, à semelhança do que acontece com os Truques da Imprensa Portuguesa, também “muitos jornalistas ficaram incomodados”, admite MC Somsen.

Para já o objetivo é “tentar chatear e incomodar” com o propósito de alertar e de fazer refletir sobre os métodos usados. “O problema não são os títulos que são um elemento de extrema importância no jornalismo e a nossa imprensa é muito francófona e pouco habitada a trabalhar títulos, o que deve ser feito”, afirma MC Somsen. “Não sou contra os títulos, sou contra a não notícia e a trivialidade”, sublinha.

Com a AntiClickBait Portugal espera também contribuir para uma maior exigência dos leitores. “As pessoas não questionam e nós todos também temos de ser melhores leitores. Somos péssimos leitores”.