Devido "à descontinuação da linha telefónica da comissão independente, a associação Quebrar o Silêncio apela à Igreja que faça o reencaminhamento das chamadas para as respostas especializadas de apoio à vítima de violência sexual". Com isto, "o objetivo é que nenhuma vítima fique desamparada e sem apoio".
"As vítimas que continuam a sentir necessidade de falar e de procurar ajuda, não podem ficar sem resposta. As vítimas que agora ligam para o número da comissão precisam de ser encaminhadas para as organizações que prestam apoio especializado na área da violência sexual, para que tenham alguém que as escute e lhes dê a resposta que precisam", diz Ângelo Fernandes, presidente da Quebrar o Silêncio.
Segundo o presidente da associação, "é preciso relembrar que estas pessoas passaram por eventos traumáticos e que é fundamental respeitar o tempo de que necessitam para falar das suas histórias de abuso".
"A Igreja pediu às vítimas para falar, mas deu-lhes um prazo limitado. Não teve em mente a dimensão traumática e o tempo que as vítimas podem precisar. Agora temos pessoas preparadas para darem este passo e a Igreja fechou-lhes a porta ao descontinuar a linha telefónica", evidencia.
"Para nós é fundamental e de extrema urgência que as vítimas tenham uma alternativa. Por este motivo, pedimos à Igreja que faça o reencaminhamento das chamadas para as entidades de apoio especializado para vítimas de violência sexual", remata.
A Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais na Igreja Católica validou 512 testemunhos, apontando, por extrapolação, para pelo menos 4.815 vítimas. Vinte e cinco casos foram enviados ao Ministério Público, que abriu 15 inquéritos, dos quais nove foram arquivados.
Os testemunhos referem-se a casos ocorridos entre 1950 e 2022, o espaço temporal abrangido pelo trabalho da comissão.
No relatório, divulgado em fevereiro, a comissão alertou que os dados recolhidos nos arquivos eclesiásticos sobre a incidência dos abusos sexuais “devem ser entendidos como a ‘ponta do iceberg’” deste fenómeno.
A comissão entregou aos bispos diocesanos listas de alegados abusadores, alguns ainda no ativo. Até ao momento foram afastadas preventivamente 14 pessoas pelas dioceses, enquanto prosseguem as devidas investigações e se aguarda pelo parecer da Santa Sé.
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