A Linha SOS-Criança recebeu 1.841 chamadas em 2017, menos 640 face ao ano anterior. Um terço dos casos envolvia crianças até aos seis anos, sendo a “criança em risco” (70 situações), a “negligência” (62) e os “maus tratos físicos na família” (70) as problemáticas mais denunciadas.
Apesar dos casos de “crianças em risco” continuarem a ser as situações mais encaminhadas pelos técnicos do SOS-Criança, observou-se uma descida de 10% face a 2016.
Os dados mostram também um aumento de 3% no número de casos de “Pedofilia” (11 em 2017) encaminhados e um decréscimo de 7% das situações de “maus-tratos psicológicos na família” (29).
Em declarações à agência Lusa, o coordenador do serviço SOS-Criança e secretário-geral do IAC afirmou que as “situações de risco parecem estar mais controladas”, porque a comunidade denuncia mais.
“No passado estas situações eram muito silenciadas e normalmente a comunidade não se envolvia nos assuntos intrafamiliares”, mas hoje está mais atenta, pede mais apoio, e “a situação tem vindo a melhorar”.
Para Manuel Coutinho, tem “sido essencial” a aposta na prevenção, “o que nem sempre impede de esporadicamente acontecerem situações graves que surpreendem tudo e todos”.
Comentando o aumento dos casos de pedofilia, mas também as situações de abuso sexual, três situações encaminhadas em 2017 para o Ministério Público, disse que, apesar de muitas situações terem por base as redes sociais, a maioria ocorre em “contexto intrafamiliar” e “quase sempre” cometida por “pessoas muito próximas da criança”.
São pessoas que “conseguem cativar e conquistar a confiança da criança” e posteriormente silenciam-na através de ameaças.
Por outro lado, as redes sociais também escondem perigos aos quais os pais têm de estar atentos.
“As redes sociais podem ter muitas aspetos positivos, mas também têm partes menos boas” relacionadas com “homens ou mulheres com menos escrúpulos” que tentam aproximar-se de crianças, para as aliciar para práticas de pedofilia.
Para Manuel Coutinho, a comunidade tem de estar atenta e “os pais têm que saber claramente o que os filhos andam a fazer nas redes sociais”.
“As crianças correm por vezes menos perigos quando estão a brincar sozinhas nas ruas do que quando estão sozinhas nos seus quartos nas redes sociais”, alertou.
Em 2017, o SOS Criança recebeu uma média de 116 apelos por mês, a maioria feita por adultos (1.318), principalmente a mãe (151), o vizinho (123), o pai (71), os avós (71) e a comunidade (92).
A maioria dos apelantes residia no distrito de Lisboa (26%), no do Porto (20%) e dos Açores (8%), referem os dados, adiantando que o “principal objetivo” dos pedidos foi “falar com alguém”.
Do total dos apelos, verificou-se o envolvimento de 874 crianças e 776 infratores, 81% dos quais era familiar da vítima. Em 376 situações, o agressor foi a mãe e em 188 o pai.
“A família deve ser o local mais seguro que a criança tem e por vezes é lá que corre os maiores perigos”, lamentou.
Em 26% dos casos as crianças viviam em famílias tradicionais, em 25% em famílias monoparentais, 14% em famílias reconstituídas e 8% em famílias alargadas.
Um terço das situações referia-se a crianças até aos seis anos, enquanto 15% respeitava a menores com idades entre os 11 e os 13 anos e 17% eram adolescentes com idades entre os 14 e os 18 anos de idade.
Para evitar que “uma situação de risco não se torne uma situação de perigo”, Manuel Coutinho apelou para as pessoas contactarem o SOS-Criança (116 111).
“Atuar na emergência é sempre muito mais difícil do que atuar na prevenção e a criança merece que as pessoas apresentem as situações quando se começa a desenhar qualquer situação de risco ou negligência”, frisou.
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