No decurso da sua investidura solene na Catedral de Belgrado Santo Sava, o novo líder religioso afirmou que a ex-província do sul da Sérvia “é o cordão umbilical” que vincula à “linhagem espiritual e histórica” e com “a essência da identidade”.

O Kosovo, onde a balança demográfica passou a pender para os albaneses locais há cerca de um século, é ainda encarado pelos sérvios como a origem da sua nação e da sua religião, e nesse território ainda permanecem numerosos mosteiros e igrejas sérvias medievais de importante valor cultural e histórico.

Segundo a tradição, o novo patriarca e que ocupava as funções de metropolita de Zabreg e Ljubljana, também terá de ser investido no antigo patriarcado de Pec, no Kosovo, uma cerimónia que deverá decorrer nas próximas semanas.

O líder da hierarquia religiosa ortodoxa da Sérvia declarou que não se irá envolver em questões políticas ou partidárias e afirmou que a tarefa da Igreja consiste em “edificar a paz e a confiança” para todos os povos e religiões.

Porfirije foi eleito na quinta-feira como o 46.º patriarca da SPC, sucedendo a Irinej, que morreu em novembro passado com 90 anos vítima de covid-19.

Com 59 anos, Porfirije é um dos patriarcas mais jovens da Igreja sérvia e é definido em diversos setores do meio como um intelectual, pacífico e dialogante.

No entanto, há quem o considere muito próximo do poder, em particular da primeira-ministra Ana Brnabic e do Presidente Aleksandar Vucic”.

A sua eleição surge num momento em que a Sérvia e o Kosovo estão sob pressão do Presidente dos EUA, Joe Biden, e da União Europeia, para o reinício do diálogo sobre a normalização das suas relações, 13 anos após a autoproclamação da independência e que Belgrado não reconhece.

Na perspetiva do analista Drasko Djenovic, citado pela agência noticiosa AFP, o novo patriarca pode mostrar-se menos intransigente face aos seus antecessores, apesar de a SPC não prescindir de recordar que o Kosovo constituiu o berço da ortodoxia sérvia.

“As suas posições sobre o Kosovo poderão ser mais moderadas que as do seu antecessor, um motivo pela qual Vucic desejava a sua eleição”, indicou.

“Os bispos mais velhos personificam as posições duras sobre o Kosovo (…) mas a situação é diferente entre os jovens bispos, que vivem no século XXI”, acrescentou.

A SPC, uma das mais influentes instituições do país a opor-se à independência da antiga província sérvia, também rejeitou vigorosamente a ideia que foi evocada por Aleksandar Vucic, de proceder a uma troca de territórios com o Kosovo como solução para o conflito.

A Igreja Ortodoxa Sérvia (SPC) possui cerca de 12 milhões de fiéis, na sua maioria na Sérvia, Montenegro e Bósnia-Herzegovina, mas também possui dioceses na Europa Ocidental, Estados Unidos e Austrália.

Natural de Becej, norte da Sérvia, e com o nome de batismo de Peric Prvoslav, Porfirije domina o grego, o inglês e o alemão, e também entende o russo.

Na década de 1990 fez-se notar através dos programas de ajuda aos jovens que sofrem de dependências e organizou o envio de ajuda às vítimas do recente e forte sismo na Croácia.