Este foi o terceiro ano consecutivo em que desceu o número de inscrições de portugueses na Segurança Social britânica, um requisito para trabalhar no Reino Unido.

Depois de anos sucessivos de aumentos significativos, o número de registos atingiu um pico em 2015, quando se inscreveram 32.301 portugueses, quase o dobro dos 16.350 registados em 2011.

Porém, 2016, ano em que 52% dos eleitores britânicos votaram num referendo a favor da saída do Reino Unido da União Europeia (UE), foi também o ponto de viragem no fluxo migratório dos portugueses.

Naquele ano foi registada uma redução de 5% no número de inscrições na Segurança Social britânica, para 30.543; em 2017 a descida foi de 26%, para 22.622, e no ano passado encolheu 17% relativamente ao ano anterior.

No relatório estatístico publicado este mês pelo Observatório da Emigração, os autores referem que o 'Brexit' teve um efeito na redução da atração do Reino Unido para os portugueses que procuram trabalho no estrangeiro, apesar de continuar a ser o principal destino da emigração nacional.

"Esta aceleração da redução da emigração portuguesa para o Reino Unido parece pois explicar-se sobretudo pelos receios induzidos pelo 'Brexit'", refere o documento.

A tendência dos portugueses acompanha a evolução das inscrições de cidadãos da União Europeia para o Reino Unido, que em 2018 caiu 16% para 418.821, contra 497.230 em 2017, com destaque para países como a Roménia, Polónia ou Bulgária.

Coincide também com as estatísticas para imigração publicadas hoje pelo instituto britânico Office for National Estatistics (ONS), que conclui que o saldo migratório da UE (diferença entre o número de entradas e de saídas) caiu para níveis de 2009.

Nos 12 meses até setembro de 2018 entraram no Reino Unido 202 mil europeus, mas saíram 145 mil, resultando num saldo migratório positivo de 57 mil, mas o ONS notou que, no conjunto dos países do Leste europeu (Polónia, Hungria, Letónia, Lituânia, Estónia, República Checa, Eslováquia e Eslovénia), há mais nacionais a sair do Reino Unido do que a entrar.

A queda no número de cidadãos da UE que chegam para trabalhar no Reino Unido tem consequências no fluxo de imigrantes que chegam o Reino Unido para trabalhar, atualmente no seu nível mais baixo desde 2014.

"Padrões diferentes para a migração da UE e de fora da UE surgiram desde meados de 2016, quando ocorreu a votação do referendo da UE. Devido ao aumento do número de pessoas que chegam para trabalhar e estudar, o saldo migratório de fora da UE está agora no nível mais alto desde 2004", admitiu Jay Lindop, diretora do Centro de Migração Internacional do ONS.

Madeleine Sumption, diretora do Observatório das Migrações da Universidade de Oxford, identificou vários fatores para a redução do interesse dos europeus no Reino Unido, como "a incerteza política relacionada ao 'Brexit', a queda do valor da libra, tornando os salários do Reino Unido menos atraentes, ou simplesmente o facto de que as oportunidades de emprego terem melhorado noutros países da UE".

Porém, num comentário publicado na página eletrónica do Observatório, também reconhece que a imigração de europeus para o Reino Unido até 2016, ano do referendo, era "invulgarmente elevadas", pelo que "pelo menos, parte deste declínio provavelmente teria acontecido de qualquer forma, mesmo sem o 'Brexit'".