"Sou candidato à presidência do CDS-PP", anunciou Nuno Melo, perante um coro de aplausos no Salão Árabe do Palácio da Bolsa, no Porto.

Lembrando o famoso cerco feito ao partido no Palácio de Cristal, também no Porto, em 1975, Nuno Melo prometeu iniciar "uma caminhada com que venceremos todos os novos cercos que querem fazer com que o CDS deixe de ser um dos partidos mais relevantes da democracia portuguesa”.

“Sou candidato, porque colocar-me à disposição do partido pelo qual lutei sempre e que me deu tanto, num dos momentos mais difíceis da sua existência, é para mim neste momento uma obrigação e um imperativo de consciência”, afirmou o eurodeputado e líder da distrital de Braga do CDS-PP.

No seu discurso, o eurodeputado do CDS-PP deixou duas críticas à direção do partido, considerando que os prazos para agendamento do Congresso foram violados e que os documentos necessários às candidaturas foram mantidos em segredo.

“Percebo que haja quem queira antecipar um Congresso — que podia realizar-se sem qualquer polémica em janeiro de 2022, que seria o prazo estatutariamente previsto — para uma data de novembro de 2021, que nos tentará impedir, mas não conseguirá, de percorrer o país e as regiões autónomas, esclarecendo militantes, debatendo o projeto desta candidatura", atirou Nuno Melo.

O candidato frisou, porém, que "perceber não é aceitar" e que está determinado a vencer, principalmente "pela forma como a democraticidade interna do partido está a ser torturada num dos momentos mais confrangedores da nossa longa existência partidária". "O que seria uma luta normal pela liderança do partido passa a ser uma luta pela decência e pela legalidade, e venceremos, porque a nossa causa é justa”, exclamou.

Quando as notícias veiculadas de que Melo e a sua ala poderiam sair do CDS-PP caso perdessem o Congresso, o candidato foi muito claro. "Quero dizer que, independente de estarmos aqui dispostos a ganhar, se por alguma razão perdêssemos o próximo congresso, eu e os outros que me acompanham neste caminho, jamais sairíamos do CDS, a menos que fossemos empurrados ou se o CDS não nos quisesse.

"Foi aqui que nasci para a política e é aqui que quero estar, plantem lá as notícias que quiserem, porque no final a realidade é sempre mais forte", atirou.

Nuno Melo deixou ainda um agradecimento aos autarcas centristas, quer aos vencedores, quer aos derrotados, nas últimas autarcas, singularizando "os presidentes de câmara e de assembleia municipal do CDS que foram eleitos em listas próprias, contra todos os outros, que foram os verdadeiros heróis de uma noite eleitoral que ninguém se pode apropriar", naquilo que foi mais uma crítica à direção.

Num discurso de cerca de 45 minutos, constantemente interrompido por efusivos aplausos da plateia de cerca de centena e meia de convidados, Nuno Melo, sustentou que não consegue “assistir quedo e mudo à progressiva perda de relevância própria do CDS enquanto partido fundamental da democracia em Portugal” e defendeu que “o CDS tem de voltar a ser um espaço para onde se quer ir, onde se quer ficar e de onde não se quer sair”.

Defendendo que “o CDS tem de voltar a ser um espaço para onde se quer ir, onde se quer ficar e de onde não se quer sair”, considerou que “é tempo de unir, de chamar os que estão afastados, de conquistar os que estão disponíveis”. “Ter paz dentro, para ser forte para fora”, acrescentou.

De acordo com Nuno Melo, é a respostas a três perguntas “que neste momento o partido faz” que justifica “a urgência de uma mudança” no CDS.

“Está o CDS em condições de ter um bom resultado em eleições legislativas se decidir concorrer sozinho? Todos sabemos que não. Está o CDS em condições de fazer uma negociação digna e representativa com o PSD se for esse o cenário que se colocará nas eleições legislativas? Evidentemente que também não. A atual liderança do CDS será capaz de conter e reduzir o crescimento de novos partidos – como o Chega e a Iniciativa Liberal – pondo em risco a nossa relevância como partido na democracia portuguesa? Aqui a resposta também é clara: não!”, afirmou.

Para o ex-vice-presidente centrista, “neste momento o eleitorado percebe melhor o que querem e o que defende o Chega e a Iniciativa Liberal e sabe pouco o que defende e quer o CDS”.

Por outro lado, se as eleições legislativas fossem hoje, o resultado do partido “seria previsivelmente penoso, como penoso será daqui a dois anos, se nada for feito para mudar”.

Já no que toca a eventuais negociações com o PSD, considerou, “a desproporção de forças ficou significativamente maior desde as eleições autárquicas e que o CDS deliberadamente apagou em excesso a sua marca”.

Decidido a “dar aos militantes a oportunidade de mudar esta fraqueza”, após dois anos do partido “a falar para dentro”, Nuno Melo defende que “o CDS tem de esforçar-se por conseguir adesões” e “sarar feridas”, “tem de renegar qualquer resquício de tentação sectária”, “tem de voltar a ter estruturas ativas” e “não pode coligar-se com o PSD à segunda e negociar orçamentos do Estado com o PS na quinta-feira”.

O centrista lamentou que os “frisos de credibilidade” do partido, “com protagonistas publicamente reconhecidos”, tenham quase desaparecido “do firmamento diretivo” e que o grupo parlamentar do CDS seja hoje “tratado como um corpo estranho”.

“O CDS tem de ser capaz de chamar de novo a si as pessoas mais competentes. […] O CDS tem de estar aberto a militantes, mas também a independentes que não têm qualquer pretensão de carreira política”, sustentou.

Neste sentido, Nuno Melo anunciou para o “início do mês de novembro” a realização de uma convenção programática em que 150 personalidades - incluindo quadros de empresas, universidades, hospitais, bancos, mundo rural, instituições de defesa e segurança, especialistas em economia e finanças, mar, economia digital e instituições europeias – refletirão sobre 15 áreas estratégicas e cujas conclusões serão a base da moção de estratégia global que levará ao XXIX congresso do CDS.

Para o eurodeputado, “o CDS tem de ser relevante no sistema e não contra ele”, não pode querer “ser o Bloco de Esquerda ou o PCP da direita”, devendo afirmar-se como uma “direita clássica com memória, mas ao mesmo tempo uma direita moderna, cosmopolita, atual e lida como útil”.

“O CDS tem de ser uma oposição capaz às esquerdas, não apenas no parlamento, mas também fora dele”, defendeu, dizendo que o atual Governo socialista “guinou à esquerda como nunca antes” e “se bloquizou”, é “nepotista nas escolhas”, é “dependente do favor do PCP e do BE”, “estimula conflitos”, “estatiza empresas e apouca quase tudo o que seja privado ou não controle, da saúde à educação”.

Denunciando ainda os “casos a casos” somados pelo executivo de António Costa, Nuno Melo criticou “um Governo que mantém ministros como Eduardo Cabrita” e tem “uma ministra da Saúde que se anima quando canta ‘A Internacional’”. Contudo, lamentou, e “exceção feita ao grupo parlamentar do CDS, não vai tendo oposições capazes”.

Reclamando que “o CDS tem de voltar a sentir que pode ser forte por si, muito mais do que aquilo em que dependa quase exclusivamente dos outros”, Nuno Melo avisou que, se o partido “não souber assumir a sua representação à direita de forma nítida, sem complexos, […] isso significará deixar todo o espaço político à direita nas mãos do radicalismo do Chega”, quando “é no CDS que esta direita racional se deve concentrar”.

Sob o mote “Tempo de construir”, a sessão contou com a presença de mais de uma centena de convidados, entre os quais vários rostos conhecidos do partido, como o líder da bancada parlamentar centrista, Telmo Correia, a deputada Cecília Meireles, o antigo líder da distrital do CDS-Porto Álvaro Castello-Branco, o deputado e presidente da União de Freguesias de Cascais e Estoril, Pedro Morais Soares, e o deputado João Almeida, que há dois anos disputou a liderança do partido com o atual presidente do partido.

O eurodeputado anunciou na passada quinta-feira que vai disputar a liderança do CDS-PP, atualmente presidido por Francisco Rodrigues dos Santos, no próximo congresso partidário, que a direção atual propõe que se realize no final de novembro.

Já em julho, Nuno Melo, que lidera agora a distrital de Braga, indicou que apresentaria uma Moção de Estratégia Global na próxima reunião magna do partido.

No domingo, realiza-se, por videoconferência, o Conselho Nacional do partido, que vai marcar a data do Congresso.

Vários conselheiros nacionais críticos da direção, entre os quais os ex-deputados Pedro Mota Soares, Nuno Magalhães e João Gonçalves Pereira, já se pronunciaram contra a antecipação do 24.º congresso – que a realizar-se no calendário previsto decorreria em janeiro ou fevereiro.

Nuno Melo, nascido a 18 de março de 1966, destacou-se enquanto deputado do CDS/PP (Centro Democrático Social/Partido Popular), tendo chegado a vice-presidente da Assembleia da República em maio de 2007.

Nuno Melo, 55 anos, advogado de profissão, é atualmente deputado ao Parlamento Europeu, para o qual foi eleito pela primeira vez em 2009. Foi eleito à Assembleia da República nas eleições de 1999, 2002 e 2005, pelo círculo de Braga. Foi vice-presidente da bancada entre 2004 e 2006, e integrou a direção dos ex-líderes centristas Paulo Portas e Assunção Cristas.

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