O aviso consta num dos relatórios, de 2019, do Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas (IPCC) da ONU e é um de vários que têm sido dados pelos cientistas desde a assinatura, em 12 de dezembro de 2015, em Paris, França, do acordo mundial para a redução das emissões de gases com efeito de estufa, como o dióxido de carbono e o metano.

Em vésperas da cimeira da ONU sobre Alterações Climáticas de Madrid (COP25), que começa na segunda-feira na capital espanhola, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente alertou, no seu relatório anual, para o aumento da temperatura do planeta em 3,2ºC mesmo que venham a ser cumpridos os compromissos do Acordo de Paris.

Segundo o relatório, que vai ser analisado na cimeira, a temperatura média poderá subir este século até 3,9ºC, a manter-se a atual tendência de emissões.

A COP25, que termina em 13 de dezembro, tem por base as decisões do Acordo de Paris, um tratado que rege as medidas de redução das emissões poluentes no mundo a partir de 2020. O acordo prevê a contenção do aquecimento global abaixo dos 2ºC, preferencialmente em 1,5ºC, em 2100, comparativamente aos valores médios da era anterior à Revolução Industrial.

Não ultrapassar até ao fim do século os 1,5ºC de aumento de temperatura significa reduzir em 45% as emissões de dióxido de carbono até 2030.

A atividade humana causou já o aumento da temperatura em 1ºC. Com um aumento estimado em 0,2ºC por década, os 1,5ºC serão atingidos em 2040 se nada for feito.

Esta semana, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente pediu um esforço maior: as emissões de carbono, que estão a aumentar todos os anos, devem ser reduzidas anualmente em 7,6%, entre 2020 e 2030, para se evitar a "catástrofe climática".

Num relatório divulgado em setembro, o IPCC, que reúne a investigação feita por cientistas de diversas partes do mundo, advertiu que, mesmo contendo o aquecimento global em 2ºC acima dos valores médios da era pré-industrial, um quarto do gelo permanente acumulado em regiões como Ártico vai derreter até 2100.

O degelo provoca a subida do nível médio do mar, que pode chegar a 1,10 metros em 2100 se as emissões poluentes não forem reduzidas.

De acordo com as previsões do IPCC, 30% a 99% do território permanentemente congelado vão deixar de o ser até ao fim do século, libertando grandes quantidades de dióxido de carbono e metano para a atmosfera.

Gera-se o "efeito bola de neve": mais emissões, mais quente fica o planeta, mais fenómenos meteorológicos extremos acontecem, como ondas de calor, secas, tempestades, inundações. E nem é preciso esperar por 2100.

Em julho de 2018, dezenas de pessoas morreram no sul do Canadá e no leste dos Estados Unidos devido a uma onda de calor.

Passado um mês, o fenómeno chegou à Península Ibérica, tocando Portugal continental, onde muitos recordes absolutos de temperatura máxima foram batidos.

Mais recentemente, em junho e julho últimos, foi a vez de a Europa Central ser afetada por duas ondas de calor, com a França a registar pela primeira vez máximas acima dos 45ºC. Segundo a ministra da Saúde, Agnès Buzyn, 1.500 pessoas morreram em resultado do calor extremo.

Secas prolongadas têm um efeito devastador sobre as culturas agrícolas e na criação de gado, com consequências para a alimentação humana, e aumentam o risco de propagação de incêndios florestais.

O painel de peritos do IPCC advertiu este ano que muitas grandes cidades podem ser inundadas todos os anos a partir de 2050 devido ao aumento da frequência dos ciclones.

Portugal também não escapa à "fúria" do mar

Um estudo da organização Climate Central, que junta cientistas e jornalistas que fazem investigação e notícias sobre alterações climáticas, apontou a Ásia como a região mais vulnerável a inundações em 2050, em particular as zonas costeiras do Bangladesh, Vietname, Indonésia, Tailândia, China e Índia (os dois últimos são dos maiores poluidores mundiais).

Segundo o estudo, publicado em outubro na revista científica Nature Communications, Portugal também não escapa à "fúria" do mar, com as zonas de Faro, Olhão, Tavira, dos estuários do Tejo e do Sado, da Figueira da Foz, Aveiro, Espinho, Esmoriz, Póvoa do Varzim, Esposende, Vila do Conde, Viana do Castelo e Caminha a serem mapeadas como territórios em risco devido à subida das águas.

Com as temperaturas mais altas, a água dos oceanos, além de subir, fica mais quente, mais ácida e com menos oxigénio, ameaçando a sobrevivência de espécies marinhas e, em consequência, os recursos pesqueiros.

Reforçando esta ameaça, as Nações Unidas estimaram que um milhão de espécies animais e vegetais que existem na Terra - de um total de oito milhões - está em perigo devido, em parte, às alterações climáticas.

Sob o lema "Tempo de agir", a COP25 vai apelar para que os países aumentem os seus compromissos de redução das emissões de gases com efeito de estufa.