Há 60 anos, parte do Cerrado do Centro-Oeste brasileiro, também conhecido como “savana brasileira, dava lugar àquela que seria a terceira capital do país, numa conceção ímpar de urbanismo e arquitetura que demorou cerca de mil dias a ser concluída, sob a alçada de Juscelino Kubitschek, o Presidente à época (1956-1961), e pelas mãos de 60 mil operários.

Depois de Salvador, no estado da Bahia, e do Rio de Janeiro, foi crescendo a ideia de levar a capital para o interior do país, de forma a povoar e desenvolver a região, de evitar ataques por via marítima e retirar o centralismo do litoral.

“Já desde os anos 1800 que já se previa uma interiorização do país, e que a capital da República fosse levada para o interior. Então, depois de muitos estudos realizados, a melhor localização que se encontrou foi no planalto central do Brasil, onde Brasília está hoje localizada, e que se tornou no grande projeto, já nos anos de 1950, do então Presidente Juscelino Kubitschek”, afirmou à Lusa o Secretário de Cultura do Distrito Federal, Bartolomeu Rodrigues.

Assim, a região Centro-Oeste brasileira, que era antes quase despovoada, tornou-se num grande centro de desenvolvimento do país devido à edificação de Brasília.

Contudo, de acordo com Bartolomeu Rodrigues, tirar a capital de uma “cidade maravilhosa” como o Rio de Janeiro para colocá-la numa área seca, de savana, não foi fácil, tendo sido feita muita oposição a esse projeto.

Eleito com o lema “50 anos em cinco”, Juscelino Kubitschek pretendia fazer o Brasil crescer em apenas cinco anos [tempo de duração de seu mandato] o que era suposto crescer em 50, e a construção de Brasília viria a ser a apoteose dessa sua ambição.

Em 1956, o Governo Federal lançou um concurso para escolher o melhor projeto para a construção de Brasília, tendo saído vencedor o urbanista Lúcio Costa, que desenhou Brasília na peculiar forma de avião, a que foi dado o nome de “Plano Piloto”, e cuja execução coube ao distinguido arquiteto Oscar Niemeyer, considerado uma das figuras-chave no desenvolvimento da arquitetura moderna.

O arquiteto carioca foi autor das principais estruturas da cidade: o Congresso Nacional, os Palácios da Alvorada e do Planalto, o Supremo Tribunal Federal e a Catedral de Brasília.

“O projeto urbanístico de Brasília foi bastante inovador para a época, tendo sido projetada para ser uma cidade administrativa e que abrigasse uma população pequena. Brasília foi a concretização de uma utopia de alguns intelectuais da época, que imaginaram que o Brasil caminharia uma sociedade mais justa e igualitária. E isso está representado na arquitetura de Brasília”, indicou Rodrigues.

“Exemplo disso é a forma como foi projetada a distribuição dos seus habitantes, pelas asas norte e sul do avião que dá forma à cidade. O meio intelectual brasileiro estava, à época, embalado numa onda otimista, com uma visão bem socialista. Brasília acabou por atrair populações de todas as regiões e hoje é o terceiro maior pensamento urbano do Brasil, apenas atrás de São Paulo e Rio de Janeiro”, destacou o secretário.

Brasília transformou-se assim no centro do poder político do país, mas nem só por isso é reconhecida. Em 1987, a capital brasileira recebeu o título de Património Cultural da Humanidade, concedido pela Unesco, devido à sua importância arquitetónica. Até então, o título da Unesco apenas havia sido concedido a cidades construídas antes do século XX.

“Ninguém imaginou, no seu sonho mais ambicioso, que Brasília alcançaria estes feitos em tão pouco tempo. Apesar de ser uma cidade sexagenária, é uma cidade novíssima, que se está a reinventar o tempo todo. Quem visitava Brasília à época da sua construção, ficava admirado, não só pela arquitetura, mas pela ousadia de criar esta cidade no meio desta vegetação do Cerrado”, disse à Lusa o Secretário de Cultura, nascido em Pernambuco há 62 anos, mas que vive em Brasília há 43.

Para comemorar os 60 anos de Brasília foram organizados uma série de espetáculos, que viriam a ser cancelados há algumas semanas, devido à pandemia do novo coronavírus, que chegou ao Brasil no final de fevereiro.

Apesar de oficialmente o governo do Distrito Federal – unidade federativa brasileira que alberga Brasília – ter apenas adiado as comemorações, Bartolomeu Rodrigues garante que tem “sabor de cancelamento”.

“Estávamos em plena execução, em contacto com grandes artistas nacionais, que tiveram os seus nomes ligados à história de Brasília. Queríamos lembrar toda essa história cultural nesses 60 anos, mas surgiu esta pandemia. Tal como aconteceu em outros eventos ao redor do mundo, tivemos também de adiar. Prefiro pensar que na festa de 61 anos festejaremos em dobro”, salientou o funcionário do governo do Distrito Federal.

“Teremos na mesma uma séria de eventos pelas plataformas virtuais, mas sabemos que não é a mesma coisa, porque a atividade artística requer o calor humano. Não tem o mesmo sabor. Vamos ter na mesma uma missa transmitida online e artistas locais a apresentarem-se pelas redes sociais. No nosso coração cantaremos os parabéns a Brasília”, concluiu Bartolomeu Rodrigues.

O Brasil contabiliza 2.575 mortes associadas ao novo coronavírus e atingiu os 40.581 casos de infeção desde o início da pandemia, informou na segunda-feira o executivo.

O Distrito Federal, cuja maioria do comércio se encontra encerrado e cuja população está em isolamento social, tem 24 mortos em decorrência da covid-19 e 872 casos confirmados.