Mais de 12 milhões de equatorianos são chamados às urnas para eleger, este domingo e já numa segunda volta, o sucessor do presidente socialista Rafael Correa, no poder desde 2007. As eleições para definir o próximo presidente do Equador são as mais disputadas da história recente do país, onde Correa venceu por três ocasiões seguidas, duas delas sem necessidade de uma segunda volta e com ampla vantagem. O atual presidente está impedido constitucionalmente de concorrer a um terceiro mandato.

O candidato do partido no governo, Lenín Moreno, que, numa primeira volta, obteve 39,36% dos votos, irá enfrentar o ex-banqueiro de direita Guillermo Lasso, que recebeu 28,09%. De acordo com o portal do CNE, Moreno, do movimento pró-governamental Alianza País (AP, esquerda bolivariana), superou Lasso, do partido político liberal Criando Oportunidades (CREO), e obteve, no escrutínio de 19 de fevereiro 3.716.343 votos, contra 2.652.403 votos para o candidato opositor.

O sistema eleitoral equatoriano prevê uma segunda volta das presidenciais caso nenhum dos candidatos consiga obter 40% dos sufrágios, e com uma margem de pelo menos 10 pontos percentuais de vantagem face ao segundo. No país, o voto é obrigatório para maiores de 18 anos e facultativo para os menores com idade entre 16 e 18 anos, os adultos com mais de 65 anos, os equatorianos que residem no estrangeiro, os estrangeiros que residam em território equatoriano mais de cinco anos, os militares, polícias e pessoas com deficiência.

Em Londres, mais concretamente na embaixada do Equador no Reino Unido, quem estará certamente atento aos resultados destas eleições é o fundador do Wikileaks, Julian Assange. O jornalista australiano refugiou-se em junho de 2012 na embaixada do Equador para evitar ser levado para a Suécia, país que reclama a sua extradição para esclarecer uma suposta implicação em quatro crimes de natureza sexual que Assange rejeita.

Guillermo Lasso, o candidato da oposição, já prometeu que se ganhar o asilo chegará ao fim e o fundador do Wikileaks terá 30 dias para deixar a embaixada do Equador em Londres. Numa entrevista, no início de fevereiro ao jornal inglês The Guardian, o candidato da direita disse que os gastos associados ao asilo político que o Equador concedeu a Assange são muitos e um fardo sobre os contribuintes equatorianos que estão "a pagar um custo que já não deveriam suportar”.

Os advogados do jornalista australiano não escondem a sua apreensão. “Estamos claramente muito preocupados que um candidato possa ameaçar levantar a proteção que o Estado do Equador ofereceu ao Julian”, disse Jennifer Robinson, uma das suas advogadas no Reino Unido. Robinson, citada pelo The Guardian, acrescenta ainda que o Equador recebeu o jornalista como refugiado e agora tem obrigação de o proteger "aconteça o que acontecer nas eleições".

O receio de Assange é o de ser extraditado para os Estados Unidos, onde pode enfrentar uma acusação por espionagem por ter revelado documentos confidenciais do Governo norte-americano.