A culpa é da pandemia do novo coronavírus SARS-CoV-2: “as pessoas acabaram por escolher zonas livres de covid-19 ou, pelo menos, em que os casos tenham sido poucos”, argumentou à agência Lusa Francisco Ramos, presidente da Câmara de Estremoz, um dos poucos concelhos do distrito de Évora sem registo de “qualquer caso” da doença.
Com os turismos rurais ou alojamentos locais do concelho “praticamente ou mesmo cheios” e os hotéis com muitas reservas, o autarca afiançou que os turistas querem “estar em zonas isoladas”, no interior.
E “esse terá sido o princípio que terá trazido mais gente do que aquilo que era normal nesta altura do ano aqui a Estremoz”, vincou, lembrando que, nos meses de verão, o interior alentejano, apesar de ser “alvo” de turismo, fica sempre mais “despido” de gente.
“O que acontecia normalmente era o contrário. As pessoas rumavam para o litoral, para o Algarve ou costa vicentina, outros para o estrangeiro”, mas, este ano, “nota-se que os residentes não saíram” e “muita gente veio de outas partes, principalmente de Portugal, e estão alojados nos turismos rurais”, comparou.
O autarca apontou como indicador desta procura “muito grande” o mercado de Estremoz, aos sábados, onde se encontra por estes dias “muita gente que não é de cá”, o que significa que “são pessoas alojadas e espalhadas pelo concelho e em concelhos limítrofes”.
Outro indicador é o Museu Berardo Estremoz, com a "maior e mais importante" coleção privada de azulejos de Portugal e aberto desde 25 de julho. Já teve quase 3.000 entradas, das quais “95% foram portugueses e que não são de cá”.
A situação de Estremoz não é única e o panorama repete-se pela região fora. O presidente do Turismo do Alentejo e Ribatejo, António Ceia da Silva, mesmo sem estatísticas atuais, confirmou que o verão está a ser “ótimo”.
“Uma região com as nossas características, horizonte, espaço, tranquilidade, paz, é uma zona toda ela ‘anti-covid’, independentemente dos surtos. É uma zona que claramente os turistas, nomeadamente os turistas com poder de compra, procuram nestas alturas, como sucedeu com esta pandemia”, argumentou.
Ceia da Silva frisou que “muitas zonas do Alentejo estão com as taxas de ocupação máxima” e insistiu que os visitantes querem “zonas mais isoladas, com menos aglomerados humanos e mais espaço”, fatores em que o território alentejano “dá cartas”.
“Isto não quer dizer que não haja unidades que não estejam a passar por dificuldades, nomeadamente micro e pequenos empresários”, admitiu, apontando para a “grande incógnita” que espera o setor “a partir de outubro”, quando o turista nacional voltar ao trabalho e os filhos à escola.
Nesta época de covid-19, o crescimento da procura turística começou a sentir-se em junho, naqueles “cinco dias brutais”, nos feriados entre os dias 09 e 13, mas, no final do verão, “o setor do turismo vai precisar do turista estrangeiro como teve durante os últimos anos”.
“A grande questão” é saber se “vamos ou não conseguir obter mercados internacionais suscetíveis de poderem substituir o crescimento do turismo interno”, alertou.
Para já, com os portugueses a fazerem férias na região, sobretudo famílias, o Alentejo aumentou dois indicadores do turismo: O RevPar, ou seja, o rendimento médio por quarto, e a taxa de permanência, porque “as pessoas têm poder de compra e estão em estadias mais prolongadas” e “no mesmo hotel”, afiançou.
O período pós-verão também suscita dúvidas a Mónica McGuill, da rede Casas Brancas, uma entidade, com 18 anos de existência, que agrega associados no litoral alentejano e costa vicentina, com 35 unidades de alojamento rural, 12 restaurantes e oito empresas de animação turística.
“A perspetiva é que o verão corra bem, talvez até meio de setembro”, mas “nota-se uma quebra” a partir dessa altura e “não sabemos bem [como vai ser]. É uma incógnita completa. Poderá haver mais ocupação aos fins de semana, mas, durante a semana, se não houver turistas estrangeiros, isso vai-se refletir”, argumentou.
Segundo a mesma responsável da rede, cuja maioria das unidades são no litoral, mas algumas ficam no interior, a procura até agora “tem sido muita” e “tem superado a expectativa”, sendo que “a maior diferença” é que vem “do turista nacional, desde casais, novos ou velhos, a famílias com filhos”.
“E os restaurantes nossos associados são quase todos conhecidos e bem reputados e, portanto, as pessoas querem muito ir. Se eles pudessem estar a funcionar a 100%, pois estariam a 100%”, acrescentou Mónica McGuill.
Quem tem uma segunda casa na zona também “está há meses” naqueles concelhos, mais ou menos próximo da praia, contou, brincando: “Quem pôde, veio esconder-se, isolar-se no Alentejo, onde não se passa nada. Até diziam que aqui isto é tudo tão lento que até o ‘covid’ era lento, não apanhava ninguém”.
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