Uma grávida perdeu o bebé alegadamente por falta de obstetras no hospital das Caldas da Rainha.

O incidente aconteceu na noite de quarta-feira, quando o serviço de urgência em obstetrícia daquela unidade estava encerrado por falta de médicos. A situação terá atrasado o atendimento à mulher grávida, que acabou por perder a criança.

O que diz o hospital sobre este caso?

Em comunicado hoje divulgado, o Conselho de Administração do Centro Hospitalar do Oeste esclarece que, na sequência da “ocorrência grave” com uma grávida na quarta-feira “foi aberto um processo de inquérito pelas IGAS, sendo, por isso, prematuro estabelecer qualquer relação de causa-efeito entre o encerramento da urgência obstétrica e o referido episódio”.

Na nota, o Conselho de Administração lamenta “profundamente a morte registada e endereça sentidas condolências a todos os familiares”.

Anteriormente, o Conselho de Administração do Centro Hospitalar do Oeste (CHO) confirmou que na passada quinta-feira, a urgência obstétrica do CHO “teve constrangimentos no preenchimento da escala médica, o que determinou o encerramento da referida urgência ao CODU/INEM, após a definição de circuitos de referenciação de doentes com outros Hospitais”.

A unidade hospitalar salienta também que “não há nenhum nexo de causalidade estabelecido entre a morte do bebé e as limitações no preenchimento das escalas”.

O CHO frisa ainda que tem “envidado todos os esforços para contratar profissionais necessários para providenciar a resposta necessária à população”.

E o Ministério da Saúde?

Em resposta a questões da Lusa, o Ministério da Saúde disse ter "conhecimento de que, por constrangimentos na escala de ginecologia obstetrícia, impossíveis de suprir, a urgência externa do Centro Hospitalar do Oeste estava desviada para outros pontos da rede do Serviço Nacional de Saúde".

O Ministério diz estar a "acompanhar o tema, em especial a evolução da situação clínica da utente que está internada no hospital, que se encontra estável e a quem será prestado apoio psicológico".

Para além de "lamentar profundamente" o sucedido, o Ministério da Saúde afirma que, "tendo em vista o apuramento de toda e qualquer responsabilidade, foi já instaurado um inquérito aos factos pela Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS)" e conclui que, "na pendência do inquérito, cujos resultados serão tornados públicos, não é possível estabelecer qualquer relação entre os dois factos".

Qual a posição da Ordem dos Médicos?

Em declarações à agência Lusa, o presidente do Conselho Regional do Sul da Ordem dos Médicos, Alexandre Valentim Lourenço, lamentou “a perda de uma vida e uma tragédia familiar”, ressalvando que este não é o momento para se falar do caso em concreto, “porque há pessoas em sofrimento”.

Segundo o especialista em obstetrícia e ginecologia, é preciso deixar que os inquéritos apurem o que é aconteceu, sublinhando que é importante precaver estas situações e ter “um plano bem estruturado de encaminhamento de informação à população”.

“Nós temos que ter a noção de que não se pode ter equipas desfalcadas e encerramentos de urgências sem consequências, e as consequências advêm de uma crise que já se arrasta há mais de três anos e para a qual temos repetidamente chamado a atenção”, salientou.

Por esta razão, sustentou, é preciso “interrogar quais serão as medidas [a tomar] e porque é que essas medidas não terão sido tomadas, sabendo nós que esta situação é estrutural e afeta múltiplas maternidades na região sul do país”.