
O Bloco ameaçou e acabou por cumprir: a tal “Missão Cabelo Branco” inspirada no Die Linke da Alemanha entrou mesmo em ação. Francisco Louçã, Fernando Rosas e Luís Fazenda regressam à linha da frente, como se a solução para a crise do partido passasse por um regresso ao passado.
É paradoxal vindo do partido que almeja ser o mais representativo das mulheres e dos jovens. “Foi o partido que mais conseguiu renovar a sua geração” - dizia Mariana Mortágua em entrevista à RTP. Se assim é, porque precisa agora de desenterrar os fundadores para se salvar?
A verdade é que os três tristes tigres a que me refiro no título do artigo não são Louçã, Rosas ou Fazenda, esses já passaram a fase de serem tigres, hoje talvez uns felis catus de escritório. Refiro-me mesmo a Mariana Mortágua , Joana Mortágua e Fabian Figueiredo. Em tempo recorde, os herdeiros de Catarina Martins conduziram o Bloco para a beira do precipício. Como é que isto aconteceu? Elegendo como líder uma economicista de esquerda que não consegue empatizar com aqueles que diz representar – ou que talvez antes representasse, e que se rodeia da espécie de dirigentes que os portugueses mais estão fartos: os que estão cheios de certezas e vontade de dar lições a toda a gente. Pretendem decidir desde o que devemos dizer ao que devemos sentir.
O período de mandato de Mariana Mortágua tem funcionado como se o Bloco de Esquerda transmitisse em frequência AM para um país que só escuta rádio em FM. Enquanto as mulheres se preocupavam com a falta de maternidades abertas, a coordenação liderada por Mariana tentava encobrir os despedimentos de lactantes no seu próprio partido. Enquanto os jovens se angustiavam com os preços da habitação, a coordenação liderada por Mariana estava mais preocupada com os lucros da Altice. Enquanto os portugueses queriam respostas sobre segurança, a coordenação liderada por Mariana manifestava solidariedade com a Palestina.
Não há maior demonstração do falhanço desta liderança do que conseguir, em menos de dois anos, o que Catarina Martins não precisou em quase dez: chamar os “pais” para arrumar a casa. Num bom rasgo de humor, o deputado comunista António Filipe assinalou que “a crise da habitação é tão grave que até o BE teve de voltar para casa dos pais.” Num partido que tanto gosta de fazer política identitária, eis o momento de ironia máxima – quando a crise aperta, lá vem o botão de emergência: chamar os seus melhores homens brancos, hetero e privilegiados para ajudar. Um bom tema para reflexão no acampamento de jovens do BE deste ano.
Ainda que o Bloco grasse de alguma simpatia em determinadas redações que se têm revezado a entrevistar os três dirigentes reciclados destas Legislativas – não sei que outros candidatos têm direito a este palco mediático de forma tão solícita – não creio que seja no mercado da nostalgia que Mortágua vai encontrar salvação. Por muito que coloquem o Louçã a falar de late stage capitalism com o Kiko is Hot ou lancem close-ups do Rosas a mexer nos suspensórios, não estamos em 1999, nem o Bloco é um Die Linke português. É, quanto muito, uma caricatura de si mesmo que além de se ter desconectado do seu eleitorado e da realidade dos portugueses, apresenta-nos nestas eleições uma paródia do seu passado.
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