Ainda que não se note, Portugal continua o país da União Europeia com mais novos casos de infeção por SARS-CoV-2 por milhão de habitantes nos últimos sete dias e o segundo no mundo neste indicador, segundo o 'site' estatístico Our World in Data. Mas a doença ainda circula, ainda mata e ainda incapacita. Que fazer?

Caíram as máscaras, os boletins diários, as ruas vazias e os pânicos temporários, mas a média diária de novos casos subiu de 2.290 por milhão de habitantes na semana passada para 2.580 hoje, seguindo-se — a larga distância — a Espanha, com 449, Grécia, com 351, Alemanha (338) e Itália (334).

Considerando os países e territórios com mais de um milhão de habitantes, Taiwan tem a maior média de novos casos diários (3.420), seguida de Portugal, Singapura (1.460), Austrália (1.440), Nova Zelândia (1.360) e Panamá (727).

No que toca às novas mortes diárias atribuídas à covid-19, Portugal mantém a maior da União Europeia (3,19), praticamente sem alteração desde a semana passada, em que estava em 3,17, seguida da Finlândia, com 2,99, a Espanha com 2,15, a Irlanda com 1,72 e a Grécia com 1,56.

Em termos mundiais, olhando para territórios e países com mais de um milhão de habitantes, Taiwan tem a maior média diária de novas mortes atribuídas à covid-19 (3,95), seguida de Portugal, Finlândia, Nova Zelândia (2,65) e Espanha.

A média de novos casos diários por milhão de habitantes na União Europeia está em 269,51 e a de novas mortes diárias em 0,91, valores inferiores ao que se verificava na segunda-feira passada.

A média mundial de novos casos está em 62 e a de novas mortes atribuídas à covid-19 está em 0,19, também a descer em relação à semana passada.

Os efeitos dos últimos dois anos em Portugal são tais que a esperança média de vida à nascença também foi afetada — e diminuiu. A esperança de vida à nascença em Portugal baixou para 80,72 anos, devido à pandemia de covid-19, segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE), que hoje divulgou os dados do triénio 2019-2021.

Ao divulgar as Tábuas de Mortalidade, o INE referiu que a esperança de vida à nascença é maior para as mulheres (83,37 anos) do que para os homens (77,67 anos). “Estes valores representam, relativamente a 2018-2020, uma diminuição de cerca de 4,8 meses para os homens e de 3,6 meses para as mulheres, em resultado do aumento do número de óbitos no contexto da pandemia da doença covid-19”, lê-se na informação do Instituto que acompanha os dados.

Uma das mais evidentes consequências é o recuo em três meses da idade legal da reforma em 2023 face a 2022, para 66 anos e quatro meses.

Segundo os dados definitivos publicados hoje, a esperança média de vida aos 65 anos, no último triénio, registou um recuo de 0,35 pontos, para 19,35 anos, devido à mortalidade associada à pandemia de covid-19. Este indicador serve para calcular a idade da reforma bem como o corte a aplicar a algumas pensões antecipadas pelo fator de sustentabilidade, que é de 14,06% em 2022, tendo ambos já sido publicados numa portaria do Governo em dezembro, baseados nos dados provisórios do INE.

A idade legal da reforma está a subir há vários anos, associada à esperança média de vida (que tem aumentado), sendo este ano de 66 anos e sete meses.

Para as notícias, a covid-19 vai perdendo espaço — faz parte da teoria jornalística olhar para a forma como as agendas se constroem e perceber quando vão sumindo. Nos pulmões e nas vidas de tanta gente, porém, a doença continua a fazer-se notar, a fazer-se sentir. A resposta há de estar entre conviver com o vírus (cujos efeitos de longo prazo são ainda desconhecidos) e reforçar os cuidados. Para isso, no entanto, era necessário ter os serviços de saúde a chegar a um lugar onde, mesmo antes, com a gripe, não tinham mãos para chegar.

Em vez de perguntar o que fazer à covid-19, talvez faça mais sentido questionar o que fazer à saúde em Portugal.

*Com Lusa