Segundo a tradição, é preservada em Nápoles uma ampola que contém sangue recolhido do corpo do padroeiro da cidade, São Januário, após o seu martírio.

Três vezes por ano, ocorre o chamado "milagre", que consiste na liquefação do sangue, que passa do estado sólido ao estado líquido: no sábado precedente ao primeiro domingo de maio, a 19 de setembro – dia de São Januário – e a 16 de dezembro. O primeiro registo deste fenómeno data de 1389.

A ampola em questão tem um compartimento com dois vidros e, entre eles, existem dois recipientes: o mais pequeno está praticamente vazio, tendo apenas algumas manchas escuras; o maior está cheio até meio com uma substância sólida e de um vermelho intenso.

Quando retirada do local onde está exposta, o arcebispo de Nápoles agita a ampola e, passado algum tempo, acontece no frasco maior a dita liquefação do sangue de São Januário — mas nem sempre. Por isso, quanto tal acontece é sinal de bom presságio.

Em oposição, quando o sangue não derrete, o povo considera que algo mau está a acontecer. Na história ficam algumas datas sem liquefação, que dão força aos crentes: em 1939, quando começou a Segunda Guerra Mundial; em 1973, quando Nápoles foi atingida por uma epidemia de cólera, em 1980, ano do grande terramoto em Irpinia, e em dezembro de 2020, com a pandemia do novo coronavírus a decorrer.

Mas neste domingo, 19 de setembro, às 10h00, as palavras esperadas foram ouvidas na catedral de Nápoles: "O sangue derreteu". No vídeo da celebração é possível ver-se este momento, seguido de palmas.

Na homilia da celebração, D. Domenico Battaglia referiu o feito. "O sangue, quer derreta, quer permaneça na sua sólida santidade, é sempre e apenas um sinal do sangue de Cristo, derramado por amor e misturado com o sangue de todos aqueles que ao longo dos séculos deram a vida para dar testemunho do amor do Senhor, da força do Evangelho e das exigências de justiça e paz que dele decorrem".

Quanto à justificação para o fenómeno da liquefação, escreveu o Vatican News em 2018 que tal se pode dever a uma situação de tixotropia, ou seja, ao momento em que alguns fluídos veem diminuída a sua viscosidade por serem agitados — como acontece, por exemplo, com a tinta de algumas canetas.

É ainda de referir que há um ingrediente na região de Nápoles que permitiria fazer uma substância com estas características, desde a Idade Média: o mineral molisita, encontrado nas encostas do Vesúvio. Por isso, esta utilização seria uma explicação para vários fenómenos de liquefação que fazem parte da tradição de Nápoles.

Contudo, são registados casos em que o sangue de São Januário já estava derretido antes de ser agitado, o que vem dificultar a análise do fenómeno sem um estudo científico aprofundado ao conteúdo da ampola. Porém, os responsáveis pela relíquia nunca o permitiram.

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