“O OSCOT sempre defendeu que é fundamental a existência de contratos locais de segurança”, disse à agência Lusa o presidente do observatório, numa reação aos acontecimentos entre a polícia e moradores do bairro da Jamaica, no Seixal, e consequente manifestação em Lisboa e incidentes na zona de Loures e Setúbal.

“Se as entidades políticas a nível local e nacional não tomarem atitudes preventivas, uma vez que muitos destes casos são problemas de ordem social, mais tarde ou mais cedo, vão solicitar que sejam um problema de ordem policial”, adiantou António Nunes.

O presidente do OSCOT sustentou que se está agora “a discutir um caso de polícia”, quando, “provavelmente”, o bairro da Jamaica necessita “de uma intervenção social adequada”.

Enquanto não existir o desmantelamento do bairro, António Nunes sublinhou que deve existir “uma maior integração entre todos os serviços de segurança e os próprios habitantes do bairro”.

O mesmo responsável sustentou que os contratos locais de segurança têm por objetivo a existência de “uma forte relação entre a comunidade de um determinado bairro e as autoridades” no âmbito da saúde, segurança e segurança social.

“Não podemos continuar a ter um bairro daquele tipo”, afirmou, sublinhando que a polícia, quando é chamada a intervir, vai fazê-lo “em circunstâncias muito complexas”.

Desde domingo, registaram-se vários distúrbios em incidentes separados, na sequência da alegada intervenção policial no bairro da Jamaica, que motivaram uma manifestação contra excessos policiais, na segunda-feira, em Lisboa, junto ao Ministério da Administração Interna.

Após a concentração, os incidentes levaram a quatro detenções pelo apedrejamento de elementos da PSP.

Durante a madrugada, a esquadra da PSP no bairro da Bela Vista, em Setúbal, foi atingida por ‘cocktails molotov’ e na Póvoa de Santo Adrião e Odivelas, distrito de Lisboa, foram incendiados caixotes do lixo e viaturas, segundo a PSP.

O presidente do OSCOT considerou também que era expectável a existência de “algumas reações negativas” à intervenção policial no Bairro da Jamaica, que está em investigação pela polícia e pelo Ministério Público, para se saber se existiu ou não algum excesso por parte da PSP.

As imagens sobre a intervenção policial no Bairro da Jamaica estão nas redes sociais o que, para António Nunes, devia ser tida em consideração estas reações, tendo em conta que hoje em dia “as redes sociais conseguem fazer uma mobilização muita elevada de jovens que aderem de imediato a estas convocatórias”.

O presidente do OSCOT afirmou também que não se pode “fazer unicamente uma análise através das imagens”, que têm de ser investigadas para se verificar se foram ou não cumpridas todas as normas.

“Todos temos direito à indignação e à manifestação, mas pacíficas. Aquilo que se passou durante a noite tem de ser reprimido porque isso cria um sentimento de insegurança”, disse, considerando importante que o Governo ao nível central e municipal iniciem de imediato um diálogo com estas comunidades.