Estas posições foram transmitidas à agência Lusa pelo antigo candidato presidencial e membro do Conselho de Estado, depois de questionado sobre a situação de impasse à esquerda para a aprovação da proposta do Governo de Orçamento do Estado para 2022.
“Continuo a ser um defensor da convergência de esquerda. Mas a convergência de esquerda só é possível com partidos que coloquem o país e as pessoas acima dos cálculos partidários”, declarou Manuel Alegre, antes de lamentar a possibilidade de estar de regresso à vida política nacional uma questão que ele próprio julgava estar resolvida na esquerda portuguesa.
“Quem é para esses partidos o adversário principal? Parece que para alguns, afinal, continua a ser o PS”, disse.
Nas suas declarações à agência Lusa, Manuel Alegre afirmou-se preocupado com “o prejuízo para os portugueses” resultantes de uma não aprovação do Orçamento na generalidade, na quarta-feira, no parlamento.
“Se cair o Orçamento, caem também um conjunto de direitos que iriam ser consagrados. É isso que me preocupa. Mas em democracia há sempre soluções e o PS nunca temeu as eleições. Mesmo quando alguns até da esquerda não as queriam, o PS nunca teve medo de eleições e sempre disputou as eleições”, insistiu.
Só que, para o dirigente histórico socialista, neste momento, “o problema que se coloca” é saber se as eleições são a melhor solução neste momento para o país.
“Acho que não”, conclui, antes de salientar que no atual impasse político “há motivações diversas”, fazendo então aqui uma distinção entre o PCP e o Bloco de Esquerda.
“O PCP está convencido que tem sido prejudicado com aquilo a que se chamou Geringonça, mas essa é uma análise superficial, porque o declínio eleitoral deve-se a um conjunto de fatores múltiplos, como o envelhecimento de muitos dos seus eleitores e mudanças sociológicas profundas. Por isso, não creio que esta rutura com o PS vá resolver esses problemas do PCP”, sustentou.
Já em relação Bloco de Esquerda, Manuel Alegre assinalou que “uma negociação orçamental não pode ser uma OPA ideológica de um partido sobre outro”.
“Há que ter a noção de que não se fazem revoluções ideológicas políticas ou sociais pela via orçamental, nem se devem confundir as questões que são do Orçamento com questões de outra natureza. Acho que o Bloco de Esquerda está a cometer um erro profundo, mas é o seu direito constitucional”, completou.
Numa breve análise à atual conjuntura política, o dirigente histórico socialista afirmou ficar com a ideia de que “há dois partidos da esquerda que não querem convergir com o PS, embora por razões diferentes”.
“Talvez se sintam mais confortáveis na oposição. Mas há sempre um risco, já que com essa posição podem estar a abrir o caminho a soluções que os seus eleitorados não desejam, nomeadamente soluções de direita. Havendo eleições, não há vencedores nem vencidos antecipados – e penso que o papel da esquerda não é derrubar a esquerda que está no poder”, frisou.
Segundo Manuel Alegre, essa situação da esquerda derrubar a esquerda no poder, embora em conjunturas diferentes, “já ocorreu no passado”.
“Agora, parece que acontece outra vez. Infelizmente, depois deste período que criou no país uma nova esperança e permitiu a Portugal avançar em muitos aspetos, fazendo frente à pandemia – e sempre com uma perspetiva social progressista -. é uma pena que haja partidos de esquerda que, no exercício legítimo do seu direito constitucional, cheguem à conclusão de que devem romper nesta situação, deixando cair um Orçamento avançado do ponto de vista dos direitos sociais e do apoio aos serviços públicos”, acrescentou.
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