A cerimónia de abertura dos Jogos do Rio, que decorrem entre 5 e 21 de Agosto, decorreu diante de um público de mais de 70 mil pessoas que lotou o templo do futebol que é o estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro. A este número somam-se mais três mil milhões de telespectadores que devem acompanhar o evento de abertura pela TV em todo o mundo.

As competições já começaram na quarta-feira, com o futebol feminino, mas as primeiras disputas pela medalha terão início apenas a partir de sábado.

O espetáculo começou com interpretação emocionante do hino nacional brasileiro por Paulinho da Viola. Durante o hino, estiveram presentes, no lado oposto do relvado, 60 atletas que entraram transportando bandeiras do Brasil, entre eles vários medalhados olímpicos, como o atleta Robson Caetano, as lendas do vólei Tande e Giovane ou a saltadora em distância Maurren Maggi, a primeira mulher a ganhar uma medalha de ouro numa prova individual, em Pequim.

Gisele incendeia o público

Os criadores da cerimónia bem tinham avisado que a intenção era "trocar o high tech, a dependência de grandes efeitos pirotécnicos e mecatrónicos pela inventividade analógica, abusando do espirito "low tech". Até o público participou da 'coreografia', usando precisamente as novas tecnologias, ao ligar os telemóveis para enfeitar as bancadas.

No relvado, a ideia era criar ou recriar ambientes através de projecções. A primeira foi de tirar fôlego. Com efeito 3D, mostrou a imensidão verde da selva amazónica. Tal como aconteceu há quatro anos, em Londres-2012, seguiu-se uma série de quadros que apresentaram a história do país, começando com os indígenas, representados por 72 dançarinos vindos de Parintins, no Amazonas.

Depois da Amazónia, foi a vez de recriar a chegada dos portugueses ao Brasil. Outra projeção 3D mostrou as caravelas, marcando a chegada dos portugueses, deixando à sua passagem um trilho de azulejo português, uma marca da identidade. Com as caravelas, chegaram também ao Brasil os africanos, e a coreografia não esqueceu a memória de um passado marcado pela escravidão.

O espectáculo colorido também veio como um apelo para preservar o planeta. A era moderna foi representada pela construção de arranha-céus, ao som de "Construção", de Chico Buarque.

Gisele Bundchen desfila na cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos

O palco estava então montado para um dos momentos mais aguardados da noite, o desfile da supermodelo Gisele Bundchen, enquanto o público batia palmas no ritmo da "Garota de Ipanema" de Vinícius de Moraes e Tom Jobim, cuja imagem era projetada ao fundo.

Duetos inspirados

Foi apenas um aperitivo para a grande festa, exaltando a diversidade do Brasil. Uma mistura de ritmos, a começar por um dos primeiros grande sucessos do funk carioca, o "Rap da Felicidade", interpretado por Ludmila. O primeiro grande momento de emoção foi ver a diva Elza Soares, ainda no ritmo do funk, emendando com "Canto de Ossanha", clássico da Bossa de Vinícius de Moraes. Sozinha no palco, sentada em uma poltrona, a sua voz rouca deixou o público arrepiado, como há mais de 40 anos as fintas do grande amor da sua vida, o eterno craque Garrincha, que  tantas vezes brilhou no Maracanã.

A mistura de ritmos continuou com "Deixa a vida me levar", cantada em dueto por Zeca Pagodinho e o rapper Marcelo D2. O rap em si, muitas vezes criticado por ter letras consideradas machistas, contrariou as críticas, trazendo a palco a voz e o poder feminino representado por Karol Conca, e a menina MC Soffia, de apenas 12 anos.

No final das apresentações musicais, só restou saltar e dançar ao som de "País Tropical", do Mestre Jorge Ben. Nada melhor que uma grande festa para dar início ao desfile das 207 delegações, começando pela Grécia, berço das Olimpíadas. O tão esperado desfile também teve conotação ambiental. Cada atleta recebeu uma semente e um tubo com substrato para semear uma árvore nativa do Brasil e colocá-la numa das torres espalhadas pelo palco. 

Cerimónia de abertura - Rio 2016

Um dos momentos mais emblemáticos da cerimónia foi, como habitual, o desfile das delegações nacionais que participam nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. A primeira delegação a desfilar foi a da Grécia. Todas as outras entraram por ordem alfabética, vestindo trajes tradicionais ou roupas mais convencionais, mas sempre com um largo sorriso no rosto.

Por ser o país organizador, o Brasil foi o último a desfilar, liderado pela porta-bandeira Yane Marques, medalha de bronze do pentatlo moderno nos Jogos de Londres-2012. Mas antes, teve lugar um dos momentos mais emotivos da noite, com a entrada no Maracanã, pela primeira vez nuns Jogos Olímpicos, de uma delegação constituída por atletas refugiados. Uma delegação tão esperada pelo público que se assistiu a um imprevisto curioso: quando os locutores anunciaram os "Atletas Independentes", ouviu-se uma grande ovação no estádio. Só que, na verdade, não se tratava ainda dos refugiados, mas sim de atletas apátridas, que por algum motivo não podem desfilar sob a bandeira dos seus países.

Equipa dos refugiados nos Jogos Olímpicos

Depois desse "equívoco", delegações de Espanha, Estados Unidos ou Grã-Bretanha foram bastante aplaudidas, até por terem como porta-bandeiras estrelas como Rafael Nadal, Michel Phelps e Andy Murray, respectivamente. A ovação, porém, foi ainda maior com a entrada de dois países que começam com a letra "I", Israel e Itália, duas comunidades fortes no Brasil e mais um retrato da diversidade do país.

O mesmo aconteceu mais tarde com a delegação portuguesa, também calorosamente recebida. Outros países mais próximos, como Argentina, Uruguai, México ou Venezuela também foram bastante aplaudidos, por setores isolados do estádio onde se encontravam claques desses países que vieram ao Rio acompanhar as competições.

Quando chegou a delegação russa, que perdeu um terço dos seus elementos por conta do escândalo de doping que assombrou os bastidores dos Jogos, o público ficou dividido entre tímidos aplausos e sonoras vaias. Já o pequeno Tonga, país de apenas 105 mil habitantes, foi um dos mais ovacionados, não por ter atletas de grande renome, mas por ostentar como trunfo um porta-bandeira musculado e que desfilou sem camisa, com traje tradicional.

34 atletas representaram Portugal na cerimónia de abertura

A delegação portuguesa entrou às 22:20 locais (02:20 em Lisboa) no Estádio do Maracanã, liderada pelo velejador João Rodrigues, que, na sua sétima participação, foi o porta-estandarte luso.

Dos 92 desportistas que competirão no Rio2016, Portugal, que foi a 153.ª delegação a desfilar, fez-se representar com 34 atletas, sendo de destacar ainda a presença do ex-futebolista Pauleta, segundo melhor marcador da história de seleção ‘AA’, em representação da equipa de futebol.

O maior contingente foi o do atletismo, com 11 atletas, incluindo o único campeão olímpico entre os representantes lusos no Rio2016, Nélson Évora, medalha de ouro no triplo salto em Pequim2008.

Cátia Azevedo, Irina Rodrigues, João Vieira, Lorene Bazolo, Marta Onofre, Marta Pen, Patrícia Mamona, Sérgio Vieira, Susana Costa e Vera Barbosa foram os outros representantes da modalidade que 'selou' os quatro ouros olímpicos de Portugal.

Por seu lado, o judo teve os seus seis representantes (Joana Ramos, Telma Monteiro, Sergiu Oleinic, Nuno Saraiva, Célio Dias e Jorge Fonseca), contra cinco da vela (João Rodrigues, Gustavo Lima, Jorge Lima, José Costa e Sara Carmo).

Pedro Martins e Telma Santos (badminton), José Carvalho (canoagem), Luciana Diniz (equestre), Filipa Martins, Ana Rente e Diogo Abreu (ginástica), Ricardo Melo Gouveia (golfe), Gastão Elias e João Sousa (ténis), Tamila Holub (natação) e João Monteiro (ténis de mesa) também marcaram presença.

Entre os atletas que competem já hoje, o tenista Gastão Elias é o único que marca presença, ao contrário dos ciclistas André Cardoso, José Mendes, Nélson Oliveira e Rui Costa, dos nadadores Alexis Santos e Victoria Kaminskaya, do atirador João Costa e de Shao Jieni, do ténis de mesa.