As declarações de Mike Ryan surgem na semana em que o Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, pediu aos serviços de informações norte-americanos para “redobrarem os esforços” para tentar explicar a origem do novo coronavírus e exigiu um relatório num prazo de 90 dias.

“Gostaríamos que todos separassem, se puderem, a política da ciência”, disse o especialista irlandês, que reclamou que nos últimos dias têm surgido informações na comunicação social “com muito poucas notícias ou evidências verdadeiras”.

“Cada país é livre para defender a suas próprias teorias sobre a origem”, disse, alertando que é preciso espaço para trabalhar e que “a situação atual” coloca a OMS numa posição difícil na procura de respostas.

A iniciativa do Presidente dos EUA reavivou a teoria de que o coronavírus poderia ter tido origem num laboratório virológico em Wuhan, cidade do centro da China onde ocorreram os primeiros casos de Covid-19 no final de 2019, apesar de especialistas da missão da OMS à China enfatizarem que no início deste ano essa hipótese era a menos provável.

Após a viagem ao país asiático, que encontrou obstáculos burocráticos do lado chinês, esses especialistas concluíram que a hipótese mais provável da origem do coronavírus era um animal selvagem ainda não confirmado, a partir do qual foi transmitido aos humanos por uma ou mais espécies intermediárias.

Mike Ryan garantiu hoje que a OMS e os Estados-membros estão a considerar diferentes especialistas para participar na próxima fase de investigação das origens do coronavírus, mas ao contrário dos 90 dias exigidos por Biden, destacou que “serão necessárias muitas missões para elucidá-las, se é que alguma vez se consegue”.

O diretor de emergência lembrou que a OMS mantém todas as teorias em cima da mesa (apesar de algumas serem consideradas mais prováveis do que outras), mas garantiu que para estudá-las é preciso “um clima positivo, um processo movido pela solidariedade”.

“A política torna as coisas difíceis, deixem os cientistas continuar a trabalhar”, acrescentou a epidemiologista Maria van Kerkhove, líder técnica da resposta à covid-19 na OMS, que pediu a todos que administrassem corretamente as suas expectativas sobre a questão das origens do coronavírus.

A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 3.513.088 mortos no mundo, resultantes de mais de 168,9 milhões de casos de infeção, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

Em Portugal, morreram 17.023 pessoas dos 847.604 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.

A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.