“Reações hostis ao trabalho anticorrupção da Transparência Internacional são cada vez mais graves e comuns, em diversas partes do mundo. Ataques às vozes críticas na sociedade, que denunciam a corrupção e a impunidade de poderosos, não podem ser naturalizados”, indicou, em comunicado, a organização não-governamental
Esta reação surge depois de uma decisão do STF, assinada pelo juiz Dias Toffoli, que determinou o envio de documentos ao tribunal por parte da Procuradoria-Geral da República (PGR).
Segundo o juiz, factos gravíssimos sobre o alegado acordo não passaram pelo crivo do Poder Judiciário e do TCU.
A suspeita é que o Ministério Público Federal (MPF) brasileiro, desde 2014, estabeleceu uma parceria com a Transparência Internacional, ONG sediada em Berlim, na Alemanha, para desenvolver ações apontadas como combate à corrupção.
Em 2017, o MPF brasileiro firmou um acordo com a empresa J&F (uma das maiores produtoras de proteína animal do mundo), posteriormente modificado, no qual foi acordado o pagamento de 10,3 mil milhões de reais (1,9 mil milhões de euros) a título de ressarcimento, dos quais 8 mil milhões de reais destinados a entidades individualmente lesadas e 2,3 mil milhões de reais (428 milhões de euros) destinados à execução de projetos nas áreas da educação, saúde, meio ambiente, pesquisa e cultura.
De acordo com o juiz do STF, a Transparência Internacional terá firmado um acordo para responder pela gestão de 2,3 mil milhões de reais (428 milhões de euros) das multas da J&F através da criação de uma fundação privada que os procuradores da Lava Jato tentaram promover no auge das investigações de corrupção na Petrobras e em outros órgãos públicos brasileiro.
Em resposta, a Transparência Internacional frisou que essas “alegações já foram desmentidas diversas vezes pela própria Transparência Internacional e por autoridades brasileiras, inclusive pelo Ministério Público Federal”.
“Apesar disso, estas ‘fake news’ vêm sendo utilizadas há quase cinco anos em graves e crescentes campanhas de difamação e assédio à organização”, sublinhou.
A operação Lava Jato, iniciada em 2014, desvendou um vasto esquema de corrupção envolvendo a petrolífera Petrobras e outros órgãos públicos brasileiros, que levou à prisão de empresários, ex-funcionários públicos e políticos.
As investigações não se limitaram ao Brasil e espalharam-se por uma dezena de outros países da América Latina e de África, cujas autoridades investigaram o pagamento de subornos.
Os promotores da Lava Jato, cujo centro de operações fica na cidade brasileira de Curitiba, no sul do país, vivem, desde 2019, o seu momento mais difícil, cercados de críticas internas e externas pela suposta falta de transparência e parcialidade nas investigações.
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