“Estamos presos num ciclo de violência que deve ser interrompido imediatamente”, declarou num comunicado Tor Wennesland, enviado da ONU para a paz no Médio Oriente, recordando o recente apelo do Conselho de Segurança das Nações Unidas pedindo “às partes para darem provas de calma e contenção e se absterem de qualquer ato de provocação e de incitação à violência”.
O Alto Representante da UE para a Política Externa, Josep Borrell, pediu hoje aos líderes de Israel e da Palestina que reduzam a tensão, perante o aumento da violência nos últimos dias, num ano em que já foram mortos pelo menos 71 palestinianos e 14 israelitas.
“A União Europeia e os seus Estados-membros estão profundamente preocupados com o aumento da violência e do extremismo em Israel e nos territórios ocupados palestinianos, que está a causar números assustadores de vítimas de Israel e da Palestina, incluindo crianças”, declarou Borrell, num comunicado.
O chefe da diplomacia da UE acrescentou que a situação na Faixa de Gaza e na Cisjordânia, incluindo Jerusalém oriental, “é de grande preocupação”.
O exército israelita atacou hoje um posto de vigilância da organização islâmica Hamas na Faixa de Gaza, depois de ter sido detonado um engenho explosivo próximo de tropas israelitas que operavam na zona fronteiriça.
Na terça-feira, forças israelitas realizaram uma incursão no campo de refugiados de Jenin, bastião da resistência palestiniana armada no norte da Cisjordânia ocupada, em busca de Abdel Fattah Husseïn Khruchah, membro do braço armado do movimento islâmico Hamas e alegado autor de um ataque que se saldou na morte de dois colonos judeus a 26 de fevereiro na Cisjordânia ocupada por Israel desde 1967, perto da cidade palestiniana de Huwara.
Durante o ‘raid’, em que o campo foi palco de intensos combates armados, os agentes israelitas mataram Khruchah, o alegado atacante, e mais cinco palestinianos, três deles elementos de grupos armados palestinianos, além de ferirem 20 civis palestinianos, dois dos quais com gravidade.
Trata-se da terceira operação israelita mais letal na Cisjordânia desde o início de 2023, num contexto de grande intensificação da violência no conflito israelo-palestiniano.
Borrell reiterou que os colonatos israelitas erigidos na Cisjordânia “são ilegais”, à luz do direito internacional, e sublinhou que “as operações militares devem ser proporcionais e conformes com o direito internacional humanitário”.
O Alto Representante europeu exortou igualmente ao “fim imediato” dos ataques terroristas e pediu também a Israel que atenue as restrições à Faixa de Gaza e mantenha o ‘statu quo’ nos lugares sagrados.
“Há uma necessidade urgente de uma nova perspetiva para a paz”, afirmou Borrell.
Em Nablus, outra cidade do norte da Cisjordânia, o funeral de Khruchah foi hoje marcado por confrontos entre a segurança palestiniana e membros do cortejo fúnebre, com troca de insultos, em que os polícias para ali destacados e as autoridades palestinianas foram comparados a “prostitutas e espiões” contratados por Israel, ao que a polícia respondeu disparando granadas de atordoamento e de gás lacrimogéneo.
O general Talal Dweikat, porta-voz dos serviços de segurança palestinianos, acusou “um grupo não-relacionado com a família do morto [de ter] roubado o cadáver e de gritar “palavras de ordem contra a Autoridade Palestiniana e os serviços de segurança, em vez de maldizerem a ocupação” israelita.
“O ataque às cerimónias fúnebres do mártir (…) Abdel Fattah Khruchah pelos serviços de segurança da Autoridade Palestiniana (…) confirma que esta participa no plano de repressão da resistência e da revolução do nosso povo”, replicou Abdelatif Qanu, porta-voz do Hamas, num comunicado.
Qanu acusou a Autoridade Palestiniana “de fornecer um serviço gratuito ao ocupante (…) para enterrar a resistência” e “nadar em contracorrente e contra a vontade [do] povo” com “o seu comportamento escandaloso”.
Também na Cisjordânia, milhares de pessoas, entre as quais muitos jovens, participaram em Jenin nos funerais dos cinco jovens palestinianos mortos na véspera, com Khruchah.
As cerimónias fúnebres foram marcadas por uma nova parada paramilitar, com muitos combatentes mascarados e fortemente armados, disparando para o ar rajadas de armas automáticas, enquanto a multidão repetia apelos “para o “sacrifício e para se seguir o exemplo dos mártires”.
Um apelo para a greve geral, em solidariedade com as famílias dos mortos de Jenin, teve grande adesão na cidade, bem como em Ramallah e Hebron.
Comentários