O porta-voz da ONU, Stéphane Dujarric, disse que o Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) e cinco outras agências avaliam os danos e a resposta humanitária com organizações e autoridades locais em Kherson, onde a barragem está localizada.

“Dizem-nos que o desastre provavelmente irá piorar nas próximas horas, pois o nível das águas continua a subir e mais localidades serão inundadas. Isso afetará o acesso das pessoas aos serviços essenciais e aumentará seriamente os riscos sanitários”, explicou Dujarric na sua conferência de imprensa diária em Nova Iorque.

A rutura da barragem de Kakhovka inundou centenas de casas e mais de 10.000 hectares de terras agrícolas na margem oeste do rio Dniepre, que divide a província de Kherson e cuja margem oriental é controlada pela Rússia.

Cerca de 5.900 pessoas foram retiradas das zonas inundadas, segundo a última atualização das autoridades ucranianas e russas.

A ONU e as suas agências distribuíram milhares de garrafas de água, produtos de purificação de água e outros itens essenciais para crianças, assim como alimentos, em cinco cidades em Kherson e Mykolaiv, disse o OCHA.

A agência alertou que centenas de milhares de pessoas dependiam do reservatório de Kakhovka para obter água potável e os seus níveis “estão a diminuir rapidamente”, um problema além da potencial contaminação das fontes de água devido às inundações.

“A destruição da barragem provavelmente afetará a segurança alimentar”, já que as novas plantações estavam na superfície inundada e danificaram os sistemas de irrigação não apenas na região de Kherson, mas também em Dnipro e em Zaporijia.

A área inundada é ainda maior na margem leste do rio, onde estava localizada a nova central hidroelétrica de Kakhovka, mas as autoridades ucranianas não podem oferecer um balanço preciso dos danos, já que esta parte da província de Kherson é ocupada pela Rússia.

Martin Griffiths, subsecretário-geral da ONU para os Assuntos Humanitários e Coordenador de Assistência de Emergência, disse na terça-feira aos membros do Conselho de Segurança que a destruição da barragem é “possivelmente o incidente mais significativo de danos a uma infraestrutura civil” desde que a invasão russa da Ucrânia começou, em fevereiro de 2022.

A Ucrânia e a Rússia acusam-se mutuamente da destruição de parte da barragem, que fornece água à península da Crimeia, ocupada e anexada pela Rússia em 2014.

A generalidade da comunidade internacional culpou a Rússia, mas o secretário-geral da ONU, António Guterres, mostrou-se prudente numa reação divulgada na terça-feira, por falta de informações independentes.

Considerou, porém, tratar-se de uma “monumental catástrofe humana, económica e ecológica”, e mais uma “consequência devastadora da invasão russa” da Ucrânia.