“Peço desculpa ao senhor engenheiro [Patrocínio Azevedo] porque da acusação resulta que ele recebeu dinheiro por minha interposta pessoa, mas o que eu digo, disse e direi é que o senhor engenheiro não recebeu um tusto furado, um euro”, afirmou o advogado ao coletivo de juízes do Tribunal de Vila Nova de Gaia, no distrito do Porto, onde está a ser julgado no âmbito da Operação Babel.
Além disso, o advogado lamentou que o ex-autarca esteja preso preventivamente desde maio de 2023 por “um equivoco” criado por si.
João Pedro Lopes assumiu que perante os promotores do projeto Skyline, que previa a construção de uma torre residencial que seria a mais alta do país, apartamentos, hotel, centro de congressos, praça, parque de estacionamento e escritórios, deu-lhes a entender que tinha facilidade em contactar com o Patrocínio Azevedo para que este ajudasse a desbloquear os processos na autarquia.
“Confesso que enfatizei um bocado essa ideia”, frisou.
Mas, na verdade, o advogado revelou que não tinha assim tanta facilidade em falar com ele.
“Acontecia inúmeras vezes não conseguir falar com ele [Patrocínio Azevedo]”, vincou.
A Operação Babel, relacionada com a alegada viciação e violação de normas e instrução de processos de licenciamento urbanísticos em Gaia, tem 16 arguidos, incluindo Patrocínio Azevedo, os empresários do ramo imobiliário Paulo Malafaia e Elad Dror, fundador do grupo Fortera, acusados de dezenas de crimes económicos, como corrupção e tráfico de influências.
O Ministério Público (MP) sustenta que Elad Dror e Paulo Malafaia “combinaram entre si desenvolverem projetos imobiliários na cidade de Vila Nova de Gaia, designadamente os denominados Skyline/Centro Cultural e de Congressos, Riverside e Hotel Azul”, contando com o alegado favorecimento por parte do antigo vice de Gaia, que receberia em troca dinheiro e bens materiais como relógios.
Segundo o MP, o advogado João Pedro Lopes, igualmente arguido neste processo, fazia a ponte de Paulo Malafaia e Elad Dror com Patrocínio Azevedo.
Além de insistir que o ex-autarca não merece estar preso, João Pedro Lopes revelou ter recebido 50 mil euros, 25 mil de cada vez, dos empresários Paulo Malafaia e Elad Dror, e não 100 mil euros como refere a acusação do MP.
O advogado esclareceu que, numa das vezes, recebeu 25 mil euros no gabinete da Fortera e, numa segunda vez, num centro comercial.
“O dinheiro que recebi foi para mim. Expliquei-lhes que houve um equivoco criado por mim sobre para quem era o dinheiro, mas depois esclareci a situação e eles [promotores] tomaram conhecimento de que o dinheiro era para mim”, atirou.
João Pedro Lopes negou ainda ter criado “um pacto corruptivo” com o ex-vice-presidente, acrescentando que isso foi “um mito criado pela acusação”.
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