O país está “perigosamente a atingir a linha vermelha em que o Serviço Nacional de Saúde [SNS] fica numa situação crítica e depois será de muito difícil recuperação”, afirmou Miguel Guimarães.
O alerta do bastonário prende-se com o facto de “o setor privado estar a crescer continuamente” em detrimento do SNS, que “está a perder capacidade de resposta”.
O número de médicos que neste momento estão a trabalhar “apenas no setor privado ou no serviço social já ultrapassa os 13 mil”, lembrou Miguel Guimarães, aludindo também à saída de cinco mil médicos do país, onde apenas “cerca de 18 mil a 19 mil médicos especialistas trabalham no SNS”.
O bastonário vai “apelar ao Governo para que seja invertida” a situação, sob o risco de se perderem “definitivamente as características genéticas que são o garante de um SNS com equidade”.
Miguel Guimarães falava nas Caldas da Rainha, no final de uma visita ao hospital local, que em conjunto com os hospitais de Torres Vedras e de Peniche forma o Centro Hospitalar do Oeste (CHO).
Com carência de profissionais nas especialidades de “anestesiologia, pediatria, obstetrícia, oncologia médica e radiologia” o CHO é, para Miguel Guimarães, “um dos exemplos de grandes dificuldades” e um dos cinco centros hospitalares do país que “mais contratam serviços médicos através de empresas de prestação de serviços” (a seguir ao Centro Hospitalar do Médio Tejo e à Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, e seguida da Unidade Local de Saúde do Norte Alentejano e do Hospital Fernando Fonseca – Amadora/Sintra).
Em 2017, apontou, a instituição “gastou 5,2 milhões de euros em contratação de serviços externos”, valor que “dava para contratar centenas de médicos a termo certo” e que equivale a “cerca de 200 mil horas de serviços médicos”.
“Há uma deficiência marcada de capital humano no CHO”, afirmou o bastonário, adiantando que os mais de 300 médicos que ali prestam serviço, dos quais 170 contratados através de empresas, realizaram “73.500 horas de trabalho extraordinário” em 2017.
A vista ao Hospital Distrital das Caldas da Rainha foi antecedida de uma outra à Unidade de Saúde Familiar Rainha D. Leonor, integrada no Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) do Oeste-Norte.
Em termos de cuidados de saúde primários, indicou o bastonário, “faltam cerca de 20 médicos” para que a população “esteja toda coberta”, encontrando-se sem médico de família 16% dos utentes da região.
O ACES Oeste-Norte engloba os concelhos de Alcobaça, Bombarral, Caldas da Rainha, Nazaré, Óbidos e Peniche, num total de cerca de 200.000 utentes.
O CHO integra os hospitais das Caldas da Rainha, Torres Vedras e Peniche, tendo uma área de influência constituída pelas populações dos concelhos de Caldas da Rainha, Óbidos, Peniche, Bombarral, Torres Vedras, Cadaval e Lourinhã e de parte dos concelhos de Alcobaça (freguesias de Alfeizerão, Benedita e São Martinho do Porto) e de Mafra (com exceção das freguesias de Malveira, Milharado, Santo Estevão das Galés e Venda do Pinheiro).
(Notícia atualizada às 19:09)
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