A ministra da Saúde anunciou ontem, em entrevista à RTP1, que a Direção-geral da Saúde pediu um parecer sobre o uso generalizado de máscaras para evitar a propagação da covid-19, tendo sido aconselhada a equacionar a medida.

"A Direção Geral da Saúde (DGS) pediu ainda hoje um parecer ao coordenador do Programa Nacional de Prevenção e Luta contra as Resistências Microbianas e esse parecer vai no sentido de equacionar o uso mais amplo das máscaras", afirmou Marta Temido.

A ministra não adiantou se a recomendação será adotada, mas admitiu que os responsáveis pelas decisões têm de se adaptar e ter uma dinâmica muito rápida perante as evidências novas que vão surgindo.

Neste sentido, a Ordem dos Médicos, num comunicado hoje divulgado, salienta a necessidade de "rever e operacionalizar pela Direção-Geral da Saúde (DGS), com carácter de urgência, os critérios de utilização universal de máscara pelos profissionais de saúde e pela população, nomeadamente nos locais ou espaços públicos onde o distanciamento social de segurança seja mais difícil".

Ontem à noite, a ministra da Saúde recordou, no entanto, que o documento que a Organização Mundial da Saúde (OMS) ainda tem disponível continua a referir que, para as pessoas sem sintomas, não é recomendável utilizar uma máscara de qualquer tipo.

Após salientar que a infeção com o novo coronavírus, que provoca a doença covid-19, acontece sobretudo por gotículas de saliva, a ministra alertou que uma máscara mal utilizada poderá não prevenir esse risco.

"O que sabemos também é que em algumas circunstâncias a utilização de máscaras, se devidamente utilizada e sobretudo, muito importante, devidamente acompanhada por um conjunto de outras medidas, pode ter um efeito protetor e um efeito de diminuição…", afirmou, explicando que o uso de máscara facial pode sobretudo permitir “que algumas coisas que não temos estado a fazer, em termos de contacto social, em termos de utilização de certos serviços, possa recuperar algum enquadramento”.

Ao alertar para a necessidade de “não permitir a ninguém, baixar a guarda”, precisou que o uso da máscara “pode permitir que alguém que está a uma distância de outro, que por algum motivo não é a distância ideal, não afete o outro”.

Marta Temido assinalou ainda a recomendação emitida esta semana pela Direção Geral da Saúde (DGS) sobre o uso de equipamentos individuais, e disse que a sua equipa está consciente que “a adaptação da sociedade e de uma necessidade de contacto” terá de ser acompanhada por medidas.

“Estamos confortáveis com as recomendações que temos e que emitimos esta semana, a utilização de máscara num contexto em que as pessoas ainda estão confinadas. O que estamos a equacionar é uma alteração possível de contexto em que uma necessidade de maior circulação social possa ser adequadamente mais protegida pela utilização mais abrangente de máscaras”, precisou a ministra.

A par desta revisão sobre os critérios para o uso de máscara, a Ordem dos Médicos pede ainda que se assegure "o fornecimento ininterrupto dos equipamentos de proteção individual indispensáveis à segurança de quem cuida dos portugueses, os profissionais de saúde e outros profissionais expostos no exercício das suas funções (forças de segurança, bombeiros, cuidadores, etc.)".

No mesmo documento salienta-se ainda a necessidade de "melhorar a capacidade laboratorial dos testes de diagnóstico em termos de volume, acessibilidade e tempo de resposta"; "possibilitar, em regime voluntário, a realização prioritária de testes de diagnóstico quinzenais aos profissionais de saúde e outros profissionais expostos"; definir, "em colaboração com peritos, os critérios de realização, interpretação e utilidade dos testes serológicos de avaliação de anticorpos" e "simplificar e desburocratizar os processos de aquisição de medicamentos, dispositivos e equipamentos vitais".

A Ordem dos Médicos deixa ainda duas notas, a primeira sobre a importância de se divulgarem "dados clínicos e epidemiológicos, em formato anónimo, dos doentes com critérios de internamento e doentes falecidos, à comunidade médica e científica, de modo a identificar e maximizar potenciais fatores de intervenção e melhoria de atuação" e, por fim, a importância de "aproveitar e rentabilizar a onda de solidariedade e todas as ofertas da sociedade civil que podem fazer a diferença no combate à COVID-19".