“[No passado] o enquadramento dos trabalhos não foi o adequado e as pessoas não mostraram vontade de continuar a trabalhar desta forma. O que a OM pediu é que a coordenação fosse diferente com protagonistas diferentes. É isso que está em cima da mesa”, disse hoje à Lusa o bastonário da OM, Carlos Cortes.
Em causa está um grupo de trabalho coordenado pelo médico Diogo Ayres de Campos, enquanto coordenador da Comissão de Acompanhamento da Resposta em Urgência de Ginecologia/Obstetrícia e bloco de partos.
Numa carta dirigida à diretora-geral da DGS, a OM tinha já manifestado intenção de retirar a confiança institucional ao especialista, que foi também recentemente demitido do cargo de diretor de Obstetrícia, Ginecologia e Medicina de Reprodução do Centro Hospitalar Lisboa Norte, depois de colocar em causa o plano de obras previsto para o serviço e a consequente colaboração com o Hospital de São Francisco Xavier.
Apontando que “não gosta de personalizar os aspetos”, Carlos Cortes disse hoje à Lusa que “é preciso abrir um caminho diferente” e que já sentiu essa abertura por parte da DGS, que lidera o grupo de trabalho.
“Hoje estive a falar com o sub-diretor-geral da Saúde e, de parte a parte, foi reiterada a vontade de se abrir um caminho diferente em que a OM é considerada. Obviamente a DGS lidera o processo”, disse Carlos Cortes, sublinhando que “a situação no [hospital] Santa Maria não tem nada a ver com esta”.
O bastonário sublinhou que “a colaboração da OM com a DGS, tanto nas normas como nas orientações clínicas, está assente num protocolo de colaboração”.
“E o respeito mútuo que as entidades têm de ter não foi respeitado”, frisou.
À Lusa, Carlos Cortes reafirmou a disponibilidade para colaborar com a DGS, mas “obviamente com um enquadramento que tem de ser feito à luz do protocolo”.
“Tem de haver uma colaboração, um respeito e uma lealdade que não transpareceram nos trabalhos” que levaram à recente aprovação pela DGS de uma norma que prevê que o internamento hospitalar, nas situações de baixo risco, possa ser realizado por enfermeiros especialistas em enfermagem de saúde materna e obstétrica, concluiu.
Já na carta enviada a Graça Freitas, na qual é pedido o afastamento de Diogo Ayres de Campos, a OM alega que a forma como foi aprovada esta norma põe em causa a segurança das grávidas e dos recém-nascidos.
No documento, Carlos Cortes explica que o “Conselho Nacional da Ordem dos Médicos” decidiu “retirar a confiança institucional ao médico Diogo Ayres Campos” por este ter ignorado a opinião dos elementos destacados pela OM para integrar o grupo de trabalho que elaborou a norma da DGS sobre os partos.
“Pretendemos que a Orientação 2/2023 da DGS seja alterada (…). A mesma põe em causa todo um histórico de sucesso de colaboração entre os diversos grupos profissionais envolvidos no trabalho de parto, a segurança das grávidas e dos recém-nascidos”, lê-se na carta.
A agência Lusa contactou a DGS, que apontou que “está em processo de finalização uma versão da orientação que visa tornar mais clara a atual”.
Salvaguardando que esta nota foi dada “na semana passada” à OM, a DGS refere que “esta atualização já incorpora contributos identificados em pronúncia anterior da Direção do Colégio da Especialidade de Ginecologia e Obstetrícia, remetida pelo bastonário da Ordem dos Médicos, e ainda os contributos de outros parceiros”.
Comentários