Ainda não eram 08:00 e havia já um aglomerado de alunos e pais à porta da Escola Clara de Resende, contrariando as regas de distanciamento social estipuladas pela Direção Geral da Saúde, para minimizar o contágio com covid-19.
Com uma única entrada na escola e os alunos a serem desinfetados por uma funcionária, gerou-se alguma confusão que foi mais tarde corrigida com a chegada de uma professora que agilizou todo o processo.
À porta da escola, pais ouvidos pela Lusa manifestavam “muita ansiedade” e alguma incredulidade sobre a capacidade do estabelecimento de ensino para responder aos cuidados estabelecidos.
“Desde que cheguei os alunos têm vindo a aglomerar-se à porta, parece que houve falta de informação e a funcionária de serviço à portaria não deixava entrar ninguém por ainda não estar na hora. Só com a chegada de uma professora é que as coisas começaram a despachar e os alunos a entrar”, disse Sílvia Dinis, mãe de uma aluna.
Esta encarregada de educação manifestou também “muitas dúvidas” em relação ao que se iria passar no interior da escola, uma vez que “as salas são pequenas e há falta de funcionários”.
Liliana Bartolo, grávida de oito meses, disse estar “preocupada” e que por esse motivo já meteu baixa "para ficar mais tranquila”.
“Agora é que vou ficar em risco”, sublinhou.
A aluna do 11.º ano, Inês Azevedo, junto a um grupo de colegas, disse estar “confiante” de que tudo irá correr bem, sem necessidade de regressar ao ensino à distância. “Com exames seria difícil”, acrescentou.
Na Escola Fontes Pereira de Melo, a direção optou por separar as entradas e, assim, evitar maior concentração na hora das apresentações, às 09:00. Os diretores de turma, identificados com um dístico da respetiva turma, deslocaram-se ao portão para acolher os seus alunos dos 2.º e 3.º ciclo.
Os mais velhos entravam por outro portão respeitando a sinalética colocada nas instalações.
A aluna do 8.º ano, Inês Raimundo disse à Lusa que teve "vontade de abraçar alguns colegas”, mas conteve-se porque é “preciso criar hábitos e regras para que corra tudo bem”.
“Acredito que a escola tem condições para que tudo funcione bem e que não seja necessário regressar ao ensino à distância. Sinceramente, não gostei da experiência, não absorvi nada do que foi dado. Ainda bem que vão fazer revisões”, acrescentou.
Já a sua colega, Beatriz Gonçalves, manifestou uma ideia diferente: “Eu não me importava de regressar às aulas por computador. Seria melhor ficar em casa, para o bem de todos”.
Todos os alunos das escolas EB 2,3 e Secundário Clara de Resende e Fontes Pereira de Melo, instaladas a poucos metros de distância uma da outra, usavam máscara no exterior da escola, ao contrário de alguns pais.
A todos os alunos foi atribuído um kit de três máscaras, certificadas, cujo uso é obrigatório em todos os espaços interiores e exteriores das duas escolas.
Na Fontes Pereira de Melo todas as turmas terão formação sobre a pandemia provocada pelo novo coronavírus com técnicos de saúde pública.
A Lusa tentou obter esclarecimentos e perceber a sinalética no interior desta escola, mas a direção, dado tratar-se de “um dia complicado, que obriga à concentração e envolvimento de todos” não se mostrou disponível.
Os mais de 1,2 milhões de alunos do 1.º ao 12.º ano estão hoje de regresso à escola para mais um ano letivo, que começa com novas regras para tentar minimizar os impactos da covid-19.
Ao longo desta semana, alguns estabelecimentos de ensino foram reabrindo, sendo hoje o último dia estabelecido pelo Ministério da Educação (ME) para reiniciar as atividades letivas presenciais.
No total, são mais de 5.300 escolas públicas e cerca de mil privadas que neste novo ano seguem um conjunto de regras definidas pelo ME e pela Direção-Geral da Saúde (DGS) devido à pandemia de covid-19.
O uso de máscaras é agora obrigatório para todos os funcionários assim como alunos a partir do 2.º ciclo, o distanciamento físico será, sempre que possível, de pelo menos um metro e as escolas têm circuitos de circulação.
Outra das recomendações é a higienização frequente dos espaços, mas para isso, alertam diretores e sindicatos, faltam funcionários.
Do lado do Governo, o ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, voltou a assegurar esta semana que o sistema está preparado para responder aos problemas, nomeadamente a falta de funcionários e docentes.
No entanto, o novo ano letivo é encarado com preocupação pelos docentes, com o Sindicato de Todos os Professores (STOP) a convocar uma greve, para que os funcionários possam não ir trabalhar caso considerem que não estão garantidas as condições de segurança.
Outro dos problemas prende-se com os trabalhadores que pertencem a grupos de risco, nomeadamente no caso dos professores que criticam não poder recorrer ao teletrabalho, sobrando-lhes apenas a baixa médica.
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